Total de visualizações de página

domingo, 29 de dezembro de 2013

Hipercorreção com advérbio


      “Naquele momento, foi obrigado a voltar para casa e, sincronicamente, elaborar outra mentira que desmentisse a anterior.” (Redação de aluno)

 
        O emprego do advérbio grifado na passagem acima não é aconselhável. Embora“sincrônico” signifique, segundo o Houaiss, “que ocorre, existe ou se apresenta precisamente ao mesmo tempo; simultâneo”, o uso de “sincronicamente” em vez de“ao mesmo tempo” constitui um caso de hipercorreção.

        Além do mais, o ato de “elaborar outra mentira” não parece simultâneo ao de “voltar para casa”; a ideia é que ele constitua uma ação posterior. Diante disso, o melhor é retirar o advérbio e deixar apenas a conjunção.
 
        Deve-se também colocar vírgula antes do pronome relativo, que introduz oração adjetiva explicativa; como o aluno se refere apenas a uma mentira, não há ideia de restrição.

         Eis a frase corrigida: “Naquele momento, foi obrigado a voltar para casa e elaborar outra mentira, que desmentisse a anterior.”

domingo, 22 de dezembro de 2013

Mau uso de "sinestesia" e outros problemas

             “A leitura nos proporciona uma sinestesia incrível, envolvemo-nos com as histórias narradas, saindo da realidade e adentrando no tão imprevisível e fascinante mundo da fantasia.” (Redação de aluno)

            Na passagem acima há problemas linguísticos em mais de uma área. Na área semântica, ocorre o uso inadequado de “sinestesia” e o emprego de um adjetivo que, de tão banalizado, nada acrescenta ao substantivo (o adjetivo “incrível”). Sinestesia significa “cruzamento de sensações” e não se confunde com a ideia, expressa pelo aluno, de “se envolver com as histórias”. A esse envolvimento dá-se o nome de empatia.

           Na área gramatical, há dois deslizes: o uso de vírgula em vez de ponto após “incrível”, o que deixa de delimitar o tópico frasal; e o emprego do verbo “adentrar” como transitivo indireto, quando na verdade ele é transitivo direto. Eis a frase corrigida:

            “A leitura nos proporciona grande empatia. Envolvemo-nos com as histórias narradas, saindo da realidade e adentrando o tão imprevisível e fascinante mundo da fantasia.”

domingo, 8 de dezembro de 2013

Não quebre a correlação

       “Dessa forma será possível saber se esse grupo é contra ou defende o mesmo ponto de vista.” (Redação de aluno)

       Certas expressões se articulam com outras e geram determinadas expectativas em quem as ouve. É o caso de “ser contra”, cujo inverso esperado é “ser a favor”.

       O aluno não observou isso na passagem acima, quebrando a simetria estrutural. Há duas formas de restabelecê-la:

       1) “Dessa forma será possível saber se esse grupo é contra ou a favor do mesmo ponto de vista.”

       2) “Dessa forma será possível saber se esse grupo ataca ou defende o mesmo ponto de vista.”

          O que não se deve é misturar as construções.

domingo, 24 de novembro de 2013

Falha coesiva devido a longa intercalação

             “Segundo pesquisas, a produção de alimentos básicos, como arroz, feijão e mandioca, muito presentes na mesa das famílias, não têm sua produção aumentada desde muito tempo.” (Redação de aluno)
           Na passagem acima ocorre falha de coesão. A longa distância entre o sujeito e o verbo fez o aluno confundir o tópico sentencial (núcleo do sujeito). Ele concordou o verbo “ter” com “alimentos” (núcleo do complemento nominal) e não com “produção”. O ideal é desfazer a intercalação e transformar o período em dois.    
          Eis a frase corrigida: “Segundo pesquisas, a produção de alimentos básicos não aumenta há muito tempo. Entre esses alimentos estão arroz, feijão e mandioca, muito presentes na mesa das famílias.”

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

"sobre" nem sempre é "em cima de"

       “É preciso refletir em cima das razões que levam a nossa educação a ser tão ruim.” (Redação de aluno)           

         A preposição “sobre” indica posição superior. Equivale a “em cima de” em frases do tipo “Deixou o livro sobre a mesa (em cima da mesa)”.

       Ocorre que essa preposição também significa “a respeito de”. Nesse caso, introduz um adjunto adverbial de assunto (“Falou sobre a reforma política”) ou o objeto indireto de verbos como “pensar”, “refletir” etc. Em situações como essas não tem nenhum sentido substituí-la por “em cima de”, como fez o aluno.

       Por sinal, há hoje uma tendência a banalizar “em cima de”, que chega a ser indevidamente usada no lugar de “em”: “A turma deu uma vaia em cima do diretor (no diretor)”.  

      Eis a frase corrigida: “É preciso refletir sobre as razões que levam a nossa educação a ser tão ruim.”

Tautologia com vocábulos gramaticais

        “A traição só ocorre exclusivamente em virtude da nossa vontade, e não dos aspectos da natureza humana.” (Redação de aluno)
 
        A tautologia é o excesso de palavras para indicar uma mesma ideia. Pode ocorrer tanto no léxico, quanto nos vocábulos gramaticais. Exemplos do primeiro tipo são expressões como “consenso geral”, “fatos reais”, “iminente possibilidade”, em que os adjetivos reiteram desnecessariamente o sentido do substantivo. O desconhecimento da etimologia por parte de quem os usa faz com que acrescentem o óbvio.

       Exemplo de tautologia gramatical ocorre na passagem acima; o aluno usa sem necessidade o vocábulo “exclusivamente”, que tem o mesmo sentido do advérbio “só”.
 
        Eis a frase corrigida: “A traição só ocorre em virtude da nossa vontade, e não dos aspectos da natureza humana.” 

domingo, 17 de novembro de 2013

"herdar" ou "legar"?

           “Algo que me foi herdado e que preservarei na minha vida a qualquer custo são valores como a honestidade e a humildade.” (Redação de aluno)
 
         Na passagem acima, há problema com o uso da locução “me foi herdado”. A construção dá a entender que herdaram do aluno valores como honestidade e humildade (“algo que foi herdado de mim...”). No entanto ele é o beneficiário e não o transmissor desses valores, que lhe foram legados pelos ascendentes.
  
       Caso se mantenha “herdar”, o herdeiro deve aparecer como sujeito ou como agente da passiva: “Algo que herdei...” ou “Algo que foi herdado por mim...”
         Eis a frase corrigida: “Algo que me foi legado e que preservarei na minha vida a qualquer custo são valores como a honestidade e a humildade.”
      

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Evite lacunas no raciocínio

          “Outro problema que atinge o idoso brasileiro é o preconceito contra as pessoas nessa fase da vida. Porém, muitos indivíduos ao chegarem nessa faixa de idade fazem muito mais atividades que os jovens.” (Redação de aluno)

        A passagem acima revela uma lacuna no raciocínio. O aluno afirma, no primeiro período, que o idoso é alvo de preconceito. No segundo, trata de mostrar que esse preconceito é injustificado, mas sustenta seu ponto de vista com uma referência pouco significativa. O fato de o idoso “fazer atividades” não impede que a discriminação contra ele se manifeste em outros âmbitos.

        Para dar unidade ao texto, é preciso inserir entre os dois períodos uma informação a que o segundo período possa realmente se contrapor. Exemplo:

         “Outro problema que atinge o idoso brasileiro é o preconceito contra as pessoas nessa fase da vida. Afirma-se, por exemplo, que são pouco ativas. Porém, muitos indivíduos ao chegarem nessa faixa de idade fazem muito mais atividades que os jovens.”

domingo, 10 de novembro de 2013

A locução "estaca zero"

         “Pela tradição brasileira de desleixo com os problemas sérios, depois da Copa, o Brasil voltará à estaca anterior.” (Redação de aluno)

          Entre os sentidos de “estaca”, está o de “marco que se finca no terreno para um indicar um ponto da superfície”. A locução “estaca zero” designa a “estaca inicial de uma marcação topográfica”. Metaforicamente, significa o “ponto de partida” ou o “ponto em que se recomeça algo”.

         Na expressão “estaca anterior”, usada pelo aluno, há uma espécie de cruzamento semântico. Ele não havia se referido a nenhuma estaca, mas tinha em mente a ideia de que, após a Copa, tudo voltaria à situação inicial, ou ao ponto de partida. Como isso corresponde à “estaca zero”, o estudante criou um híbrido em que entraram parte dessa locução e um termo que caberia melhor no contexto (“situação” ou “estágio”, por exemplo).

        Eis a frase corrigida: “Pela tradição brasileira de desleixo com os problemas sérios, depois da Copa o Brasil voltará à situação anterior.”

domingo, 20 de outubro de 2013

Sobre o uso da vírgula

          “Não é suficiente levar mais médicos, construir hospitais também é preciso.” (Redação de aluno)


            A pontuação desse período é inadequada. O uso da vírgula leva o leitor a pensar, num primeiro momento, que também não é suficiente construir hospitais. Só depois ele se dá conta de que o aluno estabelece uma contraposição baseada no seguinte raciocínio: levam-se médicos mas não se constroem hospitais, o que não é suficiente. Até que perceba isso, o leitor já perdeu o fio da leitura.  
 

       A vírgula indica uma pausa de pequena extensão e separa termos de idêntica função sintática (por exemplo: duas orações reduzidas de infinitivo, como o leitor foi levado a pensar lendo o período do aluno). Para contrapor ideias presentes em duas unidades autônomas, que podem valer cada qual por um período, deve-se usar ponto ou ponto e vírgula.

         Eis a frase corrigida: “Não é suficiente levar mais médicos; construir hospitais também é preciso.”

domingo, 13 de outubro de 2013

Evite repetir os conectivos

           Para que este pensamento machista diminua é necessária a conscientização dos cidadãos, com a promoção de campanhas e a valorização da mulher no meio escolar, para que todos percebam que elas não mais o sexo frágil.” (Redação de aluno)

         A passagem acima apresenta falha estrutural. O motivo é a repetição da circunstância de finalidade (introduzida pela locução “para que”) tanto no início quanto no fim do período. Qual é, afinal de contas, o objetivo de se conscientizar os cidadãos? Mudar o pensamento machista ou fazer as pessoas perceberem que a mulher não é mais o sexo frágil?

        Uma coisa praticamente significa a outra, de modo que é possível resumi-las numa única ideia de fim. É o que se faz abaixo (aproveitando-se também para enxugar o texto):

        “Para mudar esse pensamento machista, é necessário conscientizar as pessoas de que a mulher não é mais o sexo frágil. Isso pode ser feito por meio de campanhas que a  valorizem no meio escolar.”

domingo, 6 de outubro de 2013

Inadequação vocabular por influência de metonímia

          “É preciso que a comunidade brasileira participe e fiscalize essas ações governamentais para que juntos possamos tear fio por fio a tão sonhada igualdade de gêneros.” (Redação de aluno)
        Na passagem acima há um problema gramatical e outro semântico. O gramatical é a atribuição de um mesmo complemento a verbos de regências diferentes (“participar” é transitivo indireto; “fiscalizar”, transitivo direto). O ideal é suprimir um desses verbos.
        O problema semântico é um curioso exemplo de imprecisão vocabular devido a uma relação metonímica. Explicando: não existe o verbo “tear”. O tear é o artefato com que se tece. O desvio metonímico consiste, pois, em se usar o instrumento pela ação.
 
         Eis a frase corrigida: “É preciso que a comunidade brasileira fiscalize essas ações governamentais para que juntos possamos tecer fio por fio a tão sonhada igualdade de gêneros.”

domingo, 22 de setembro de 2013

Paralelismo e harmonia textual

        “As pessoas têm procurado no consumo a ‘fórmula mágica’ para a felicidade, em busca do bem-estar, da realização pessoal e como forma de minimizar as angústias.” (Redação de aluno)
      Manter o paralelismo sintático é importante para dar harmonia ao texto. Na passagem acima essa harmonia foi quebrada ao se introduzir o terceiro complemento do substantivo “busca”. Os dois primeiros são introduzidos pela preposição “de”; no terceiro, substitui-se indevidamente essa preposição pelo conjunto “como forma”.
 
      Eis a frase corrigida: “As pessoas têm procurado no consumo a ‘fórmula mágica’ para a felicidade, em busca do bem-estar, da realização pessoal e de minimizar as angústias.”

domingo, 15 de setembro de 2013

Evite a inadequação vocabular

        “Jovens foram às ruas protestar contra o aumento, mas foram repreendidos violentamente por policiais.” “A classe média pode ser considerada também revolucionária, já que a maioria das manifestações contemporâneas foi organizada por ela.” (Redações de alunos)
 
       Grande parte dos problemas nas redações situa-se na área semântica. Consiste, basicamente, de inadequação vocabular. O que provoca as inadequações? As passagens acima ilustram duas possibilidades, que são as mais comuns.
       Na primeira, a inadequação se deve à influência de um parônimo. A semelhança de sons entre as duas palavras levou o aluno a usar “repreender” no lugar de “reprimir”. Até que a ideia de “repreender violentamente” soa como um eufemismo irônico para a ação dos policiais, mas certamente o redator não teve essa intenção.
       Na segunda passagem, a impropriedade decorre do exagero com que se qualifica a classe média. Digamos que ela seja atuante, participante, engajada – mas não que, saindo às ruas, tivesse o propósito de fazer uma revolução.

domingo, 25 de agosto de 2013

Uso inadequado dos conectivos

        “Entre os principais motivos para o consumismo está no crescimento do salário e a facilidade para conseguir cartão de crédito.” (Redação de aluno)
         Na passagem acima, há falha de coesão devido ao uso inadequado dos conectivos. A preposição “entre” não admite o emprego do “em”, que antecede “crescimento”.
         O aluno não se decide entre apresentar “os principais motivos” como adjunto adverbial ou como sujeito. Caso optasse pela primeira opção, teria que suprimir a preposição “em”; caso optasse pela segunda, teria que retirar o primeiro dos conectivos e substituir o verbo “estar” por “ser”. Eis as duas possibilidades:  
  1 -“Entre os principais motivos para o consumismo, estão o crescimento do salário e a facilidade para conseguir cartão de crédito.”
 2 - “Os principais motivos para o consumismo são o crescimento do salário e a facilidade para conseguir cartão de crédito.”

domingo, 11 de agosto de 2013

"Indiferença" não é o mesmo que "aversão"

           “O preconceito não vem do berço. Ninguém já nasce detestando alguém só por ser diferente da maioria. Esse sentimento de indiferença pode vir dos pais ou ser influenciado pelo meio em que se vive.” (Redação de aluno)

         A coesão por reiteração é uma das formas de dar unidade ao texto. Ela consiste em retomar o conteúdo de um termo por meio de vocábulos lexicais, ou seja, vocábulos que não pertencem ao universo da gramática. Uma das possibilidades de fazer isso é utilizar sinônimos. Para que o processo seja eficiente, é preciso ficar atento à equivalência de sentidos. Na frase acima, o aluno não observou isso; tratou aversão e indiferença como se fossem a mesma coisa.
  
         “O preconceito não vem do berço. Ninguém já nasce detestando alguém só por ser diferente da maioria. Esse sentimento de aversão pode vir dos pais ou ser influenciado pelo meio em que se vive.” 

domingo, 4 de agosto de 2013

Mantenha a simetria estrutural

          “Precisa-se de professores qualificados e da conscientização dos médicos para trabalhar no interior desde que tenham condições para isso.” (Redação de aluno)
          O paralelismo é importante para manter o equilíbrio estrutural da frase. Na passagem acima ele foi quebrado devido à coordenação de dois objetos indiretos morfologicamente distintos. O primeiro é um substantivo concreto (professor); o segundo, um substantivo abstrato (conscientização).
         Para manter a simetria, devem-se coordenar termos da mesma natureza. Na passagem do aluno, é melhor ligar as pessoas (professores e médicos) do que as qualidades (qualificação e conscientização).
         Eis a frase corrigida: “Precisa-se de professores qualificados e de médicos conscientes para trabalhar no interior desde que tenham condições para isso.”

domingo, 28 de julho de 2013

Falha semântica e infinitivo composto

        “O Congresso Nacional votou uma série de concessões, como ter tornado a corrupção um crime hediondo, arquivado a Pec 37 e proibido o voto secreto em votações para cassar o mandato de legisladores acusados de irregularidades.”  (Redação de aluno)

        Há dois problemas na passagem acima – um semântico, outro morfológico. O semântico está no uso inadequado de “concessões”. Segundo o Aurélio, concessão significa “consentimento, transigência”, ou ainda “o ato de ceder algo de sua opinião ou direito”. O Congresso não praticou nenhuma dessas ações ao atender o pleito dos manifestantes. Diante disso, o aluno deveria ter optado por uma palavra neutra como “medidas”.

       A falha morfológica é o uso do infinitivo composto (ter tornado) em vez do simples (tornar), o que levou à monótona repetição do particípio nas formas verbais subsequentes. 

         Eis a frase corrigida: “O Congresso Nacional votou uma série de medidas, como tornar a corrupção um crime hediondo, arquivar a Pec 37 e proibir o voto secreto em votações para cassar o mandato de legisladores acusados de irregularidades.”

domingo, 14 de julho de 2013

Evite o uso redundante de adjetivos

        “O problema está no mau uso da imprensa para invadir a privacidade do outro.”; “Portanto, é preciso a pessoa ter cuidado com o que vai publicar em redes sociais e não fazer nada de errado que possa comprometê-la.” (Redações de alunos)

         Nos períodos acima, os alunos dão a entender, respectivamente, que é tolerável o mau uso da imprensa para outra coisa que não seja transgredir a privacidade do outro; e que é admissível a pessoa fazer algo de errado nas redes sociais, desde que isso não a comprometa.

       Os responsáveis por essa interpretação são os adjetivos “mau” e “(de) errado”, que constituem um redudante juízo negativo. Invadir a privacidade alheia constitui por si um mal, e não precisa que se reitere isso; da mesma forma, se a pessoa se compromete com o que publica nas redes sociais, tal fato já constitui um erro. Retirando-se os adjetivos, desfaz-se a ambiguidade.

     Eis as frases corrigidas: “O problema está no uso da imprensa para invadir a privacidade do outro.”; “Portanto, é preciso a pessoa ter cuidado com o que vai publicar em redes sociais e não fazer nada que possa comprometê-la.”

domingo, 7 de julho de 2013

Em favor da clareza

        “A adolescência é o período de maior fragilidade do indivíduo, pois este se encontra favorável a influências alheias.” (Redação de aluno)

        O uso da palavra adequada é fundamental para o redator se expressar com clareza.   Sem rigor semântico, ele pode até dizer o contrário do que pretendia.

          Na frase acima o aluno não chega a esse extremo, mas o uso de “favorável” dá a entender que o adolescente não se opõe a ser influenciado pelos outros. O que é uma disposição própria da idade soa como um propósito consciente e deliberado.

      Eis a frase corrigida: “A adolescência é o período de maior fragilidade do indivíduo, pois este se encontra suscetível a influências alheias.”

domingo, 30 de junho de 2013

Tautologia com vocábulos gramaticais


        “A traição ocorre exclusivamente em virtude da nossa vontade, e não dos aspectos da natureza humana.” (Redação de aluno)
        A tautologia é o excesso de palavras para indicar uma mesma ideia. Pode ocorrer tanto no léxico, quanto nos vocábulos gramaticais. Exemplos do primeiro tipo são expressões como “consenso geral”, “fatos reais”, “iminente possibilidade”, em que os adjetivos reiteram desnecessariamente o sentido do substantivo. O desconhecimento da etimologia por parte de quem os usa faz com que acrescentem o óbvio.
 
       Exemplo de tautologia gramatical ocorre na passagem acima; o aluno usa sem necessidade o vocábulo “exclusivamente”, que tem o mesmo sentido do advérbio “só”.
        Eis a frase corrigida: “A traição só ocorre em virtude da nossa vontade, e não dos aspectos da natureza humana.”

domingo, 23 de junho de 2013

Abuso da locução "em cima de"

       “É preciso refletir em cima das razões que levam a nossa educação a ser tão ruim.” (Redação de aluno)           

         A preposição “sobre” indica posição superior. Equivale a “em cima de” em frases do tipo “Deixou o livro sobre a mesa (em cima da mesa)”.

       Ocorre que essa preposição também significa “a respeito de”. Nesse caso, introduz um adjunto adverbial de assunto (“Falou sobre a reforma política”) ou o objeto indireto de verbos como “pensar”, “refletir” etc. Em situações como essas não tem nenhum sentido substituí-la por “em cima de”, como fez o aluno.

        Por sinal, há hoje uma tendência a banalizar “em cima de”, que chega a ser indevidamente usada no lugar de “em”: “A turma deu uma vaia em cima do diretor (no diretor)”.  

     Eis a frase corrigida: “É preciso refletir sobre as razões que levam a nossa educação a ser tão ruim.”

domingo, 16 de junho de 2013

Uma armadilha com o verbo "evitar"

         “Deve-se evitar gastar muito com pessoal nem permitir que gente despreparada entre no serviço público.” (Redação de aluno)

        Nessa passagem, o uso da conjunção “nem” constitui uma falha na coesão sequencial. Esse conectivo, que significa “e não”, deveria estar coordenado a uma  afirmação negativa – o que não ocorre.

       O motivo do engano do aluno é semântico; liga-se ao uso do verbo “evitar”, que tem em si uma ideia negativa. Mas o que rege as articulações coesivas não é a ideia, e sim a forma. 
      Na correção, é recomendável desfazer a junção dos infinitivos (evitar gastar), que soa mal. Por exemplo: “Deve-se evitar gasto excessivo com pessoal e permissão para que gente despreparada entre no serviço público.”

domingo, 2 de junho de 2013

Incoerência e falha de pontuação

           “A ideia altruísta, de preservar o presente em detrimento daqueles que ainda virão, é constantemente relacionada à preservação do meio ambiente.” (Redação de aluno)
 
           Na passagem acima, há um problema de incoerência e outro de pontuação. A incoerência está no uso da locução “em detrimento”, que significa “em prejuízo”. Opõe-se a “em prol”, que quer dizer “em proveito”.  O aluno se refere a uma ideia que visa a beneficiar os outros. Sendo assim, a preservação do presente não pode se dar em prejuízo desses outros (aqueles que virão). Preserva-se o presente, o agora, em benefício das gerações futuras.
 
          O problema de pontuação está no uso das vírgulas. Com elas, o aluno apresenta a sua ideia como uma explicação, e não uma especificação. Ora, nem toda “ideia altruísta” consiste em preservar o presente.
  
         Eis a frase corrigida: “A ideia altruísta de preservar o presente em prol daqueles que ainda virão é constantemente relacionada à preservação do meio ambiente.”
          

terça-feira, 28 de maio de 2013

Delimite o tópico frasal

          “Ciência e fé dificilmente caminham no mesmo sentido, como na Idade Média, quando a poderosa Igreja alienava seus milhões de seguidores, restringindo-lhes à ignorância.” (Redação de aluno)
 
          Na passagem acima, há problemas de pontuação e semântica. Falta um ponto após a palavra “sentido”, para delimitar o tópico frasal e impedir que a expressão “como na Idade Média” fique oscilando entre um período e outro.
         Do ponto de vista semântico, ocorre o uso inadequado do verbo “restringir”, que torna incoerente o texto. Se a Igreja restringe a ignorância dos seguidores, torna-os menos alienados.
 
          Eis a frase corrigida: “Ciência e fé dificilmente caminham no mesmo sentido. Na Idade Média, por exemplo, a Igreja alienava seus milhões de seguidores, condenando-os à ignorância.”

domingo, 19 de maio de 2013

Confusão no uso da passiva

        “Não é novidade dizer que no Brasil não se é cumprida as leis ambientais.” (Redação de aluno)

       O uso de “se é” constitui uma espécie de fusão entre a voz passiva sintética, ou pronominal, e a voz passiva analítica. O estudante pareceu hesitar entre uma das duas construções e acabou ficando com ambas.

       A escolha por qualquer uma delas torna correto o texto: “Não é novidade dizer que no Brasil não se cumprem as leis ambientais” (passiva sintética); “Não é novidade dizer que no Brasil não são cumpridas as leis ambientais” (passiva analítica).

terça-feira, 14 de maio de 2013

Vírgula em períodos

         
           “A Igreja católica recebeu bem as ideias de Darwin, ela não o deve um pedido de desculpas.” (Redação de aluno)

          Na passagem acima, há duas infrações à norma. A primeira diz respeito à pontuação; dois períodos, a não ser por razões estilísticas, não devem ser separados por vírgula. Caso haja entre eles um nexo ideativo, o melhor é transformá-los num único período e explicitar a relação existente entre as orações (no caso, de conclusão).
         O segundo problema é o uso do pronome oblíquo “o”, em vez de “lhe”, para indicar um objeto indireto.

          Eis a frase corrigida: “A Igreja católica recebeu bem as ideias de Darwin; logo, não lhe deve um pedido de desculpas.”

domingo, 5 de maio de 2013

Falha no uso do "como" e inadequação semântica




      “Precisamos ter bastante cuidado no uso da informalidade, como em circunstâncias que iremos nos reportar a oficiais de justiça, superiores no trabalho, políticos.” (Redação de aluno)

         Na passagem acima, ocorrem falhas de estrutura e de semântica. A falha estrutural está no uso do conectivo “como”, que introduz uma relação de semelhança com algo que não foi mencionado. O erro semântico consiste no uso do verbo “reportar-se”, que tem o significado de “referir(-se)” e, obviamente, não cabe no contexto.

       Eis a frase corrigida: “Precisamos ter bastante cuidado com o uso da informalidade em circunstâncias formais, como aquelas em que nos dirigimos a oficiais de justiça, superiores no trabalho, políticos.”

domingo, 21 de abril de 2013

Fique atento à coesão sequencial

          “Não é apenas a aparência física responsável por preservar um relacionamento. Portanto, ter uma base intelectual é importante para se obter um longo laço amoroso.” (Redação de aluno)  

        Conexões indevidas comprometem a lógica do texto. Interferem na chamada coesão sequencial, que se realiza por meio dos conectivos. Na passagem acima, por exemplo, o aluno usou conjunção conclusiva quando deveria apresentar um acréscimo (e não uma conclusão) à informação anterior. O acréscimo era necessário para se correlacionar com a expressão “não é apenas”, presente no primeiro período. 

         Eis a frase corrigida: “Não é apenas a aparência física responsável por preservar um relacionamento. Também uma base intelectual é importante para se obter um longo laço amoroso.”

domingo, 14 de abril de 2013

Manter o tópico da sentença como sujeito assegura a coesão

        “Além de tirar a vida dos doentes, os principais alvos eram os pacientes dos SUS, o que demonstra grande preconceito.” (Redação de aluno)

        Manter o tópico da sentença como sujeito confere unidade ao texto. Nosso aluno, infelizmente, não observou isso.

        O tópico da sua sentença é “Virgínia Soares de Souza”, sujeito oculto do verto “tirar”. À oração em que esse verbo aparece coordena-se a seguinte, que tem como sujeito “os principais alvos”.

        A presença deste novo sujeito quebra a expectativa do leitor. Se “além de” uma coisa a médica fazia outra, era de esperar que se continuasse falando dela na segunda oração.

       Eis a frase corrigida: “Além de tirar a vida dos doentes, a médica escolhia os principais alvos entre os pacientes do SUS, o que demonstra grande preconceito.”

domingo, 31 de março de 2013

Evite o excesso de conectores

           “É preciso que as instituições de ensino sejam rígidas no combate à cola, para que só assim os jovens cresçam sabendo que a desonestidade tem sérias consequências.” (Redação de aluno)

          Excesso de conectivos, como ocorre na passagem acima, gera incoerência textual.  O aluno desnecessariamente acrescenta à locução “para que”, que tem valor de finalidade, o conjunto “só assim”, indicativo de condição.

       O verbo no subjuntivo harmoniza-se com a ideia de fim (“para que os jovens cresçam”) e torna dispensável o complemento condicional. Caso este seja mantido, deve-se omitir a locução indicativa de fim e adequar o verbo.

         Por exemplo: “É preciso que as instituições de ensino sejam rígidas no combate à cola, só assim os jovens crescerão sabendo que a desonestidade tem sérias consequências.”

domingo, 24 de março de 2013

Retome formalmente o que está explícito

  
       “A maior parte dos jovens acreditam que a vida alheia é melhor e mais interessante, por sempre os verem com sorrisos estampados no rosto.” (Redação de aluno)

        A que termo se refere o pronome “os” (grifado)? Não pode ser a “jovens”, pois são estes que veem os sorrisos estampados no rosto dos que parecem ter uma boa vida.

        Esse tipo de falha coesiva é comum quando o estudante retoma, mentalmente, o núcleo de uma locução adjetiva. Como o adjetivo “alheia” equivale à locução “do(s) outro(s)”, é o pronome “outros” que a forma oblíqua “os” retoma.

       Com a explicitação da locução adjetiva, é possível dar unidade ao texto: “A maior parte dos jovens acreditam que a vida dos outros é melhor e mais interessante, por sempre os verem com sorrisos estampados no rosto.”      
       

domingo, 17 de março de 2013

Fique atento às falsas definições

            “Alguns acreditam que o desenvolvimento sustentável (utilização dos recursos sem prejudicar as futuras gerações) pode amenizar os problemas.” (Redação de aluno)

            A falsa definição constitui um erro lógico frequente nas redações. Ela ocorre quando, em vez de conceituar determinado objeto (pessoa, fenômeno, procedimento), o redator apenas indica um aspecto relacionado a ele.    

            É o caso da frase acima, em que o aluno se propõe a definir “desenvolvimento sustentável”. Esperava-se que ele explicasse em que isso consiste, e não que mencionasse um de seus efeitos.

          Eis uma correção possível: “Alguns acreditam que o desenvolvimento sustentável (utilização dos recursos sem agredir a natureza) pode amenizar os problemas.”

domingo, 3 de março de 2013

Evite o "deve-se haver"

          “Diante de casos extremos, deve-se haver uma conscientização de que ser diferente é bonito.” (Redação de aluno)

          Vez por outra me deparo nas redações com a presença de um “deve-se haver”. Esse tipo de construção fere a norma culta, pois quando o verbo “haver” significa  “existir” é impessoal; logo, não admite a presença da partícula de indeterminação do sujeito.

          O desvio certamente se explica por o aluno confundir o verbo “haver” com o verbo “ter” -- este, sim, capaz de receber a partícula.  Do cruzamento entre “deve haver” e “deve-se ter”, resulta uma terceira forma, anômala, “deve-se haver”.

          Eis a frase corrigida: “Diante de casos extremos, deve haver a conscientização de que ser diferente é bonito.”

sexta-feira, 1 de março de 2013

Não misture o particular com o geral

          “É notável que Adriano Silva deu o primeiro passo para a desintoxicação, que foi assumir que é dependente. Mas também é fundamental a ajuda de um profissional especializado.” (Redação de aluno)

         No parágrafo acima, há excesso de palavras e quebra da unidade estrutural. Pode-se corrigir o excesso retirando-se o desnecessário “É notável que...”.

        Para conferir unidade, deve-se também no segundo período fazer referência a Adriano Silva. Sem isso, há uma indevida associação entre o particular (ou seja, o que ocorreu com o jornalista) e o geral (aplicável a qualquer pessoa).

         Eis uma sugestão para melhorar o texto: “Adriano Silva deu o primeiro passo para a desintoxicação, que foi assumir que é dependente. Mas é também fundamental que ele procure a ajuda de um profissional especializado.”  

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Evite lacunas entre as ideias (non sequitur)

            Investir na saúde é fundamental para que a expectativa de vida aumente, mas a forma que os investimentos são feitos deve ser repensada. Alguns hospitais públicos têm maquinas de ponto, mas não têm um funcionário que saiba utilizá-las. (Redação de aluno)

          Na passagem acima ocorre o non sequitur (tradução do latim: “não se segue”), que é a falta de concatenação entre os períodos ou entre algum(ns) dos seus membros. O aluno de início escreve que a forma como os investimentos em saúde são feitos deve ser repensada. Espera-se, é claro, que justifique essa afirmação.

         Em vez disso, ele critica a má utilização das máquinas de ponto pelos funcionários. Essa crítica, sem conexão com o que foi dito, não constitui uma justificativa. Diz respeito mais à indisciplina dos profissionais de saúde do que à política do governo para o setor.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

A ambiguidade pode prejudicar a clareza

           “Encontrado crânio de rei inglês sumido há 500 anos.” (Portal Uol)

          A ambiguidade é a dualidade de sentido. Deve ser evitada quando prejudica a clareza do texto, como em: “Deixei-a feliz” (quem ficou feliz?), “Pedro encontrou a mulher rindo” (pode-se entender que qualquer um dos dois ria), “Não foi contratado por imposição do chefe” (não houve contratação ou, no caso de ter havido, o chefe não a impôs). 
 
          A ambiguidade constitui um recurso retórico quando se condensa mais de um sentido em determinado vocábulo. Esse recurso é muito usado na publicidade, como se vê neste slogan de uma marca de celulares: “Nokia -- o mundo todo só fala nele” (fala “sobre” ele e fala “por meio” dele).

          Na frase que abre o tópico, ocorre ambiguidade sintática -- também chamada de anfibologia. O adjunto “sumido” pode se referir tanto a “crânio”, quanto a “rei”. É possível desfazer o equívoco escrevendo, por exemplo: “Encontrado crânio sumido há 500 anos que pertenceu a rei inglês”.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O uso de metáforas exige cuidado

            “A inserção da mulher no mercado de trabalho ainda é palco de discussões devido ao machismo.” (Redação de aluno)

           É preciso cuidado com o uso de metáforas. Nem sempre ele concorre para assegurar o rigor que o texto dissertativo requer.
  
          O palco é um “estrado ou tablado destinado às representações”, geralmente teatrais. Ao afirmar que a inserção da mulher é “palco” de discussões, o aluno dá a entender que tal inserção constitui o lugar onde as discussões ocorrem.  Além disso, omite a relação de causa e efeito que se estabelece entre o sujeito e o predicado. Essa relação pode ser indicada por uma metáfora mais adequada (como “fonte”) ou por uma forma verbal.

          Por exemplo: “A inserção da mulher no mercado de trabalho ainda é fonte de discussões devido ao machismo.” Ou: “...ainda gera, produz discussões etc.”.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Ambiguidade por falta de paralelismo

          “É função não só dos casais melhorarem seus relacionamentos, mas também uma ação de autoridades, com a finalidade de combater a violência.” (Redação de aluno)

         O período acima está mal estruturado. A falta de paralelismo entre os membros do par “não só... mas também” dá a entender que melhorar os relacionamentos é função tanto dos casais quanto das autoridades -- o que não faz sentido.

         Casais e autoridades concorrem para a realização de um mesmo fim, que é “combater a violência”. Pode-se expressar melhor essa ideia com um reordenamento da frase.

         Por exemplo: “O combate à violência é função não só do bom relacionamento dos casais, como da ação das autoridades.”

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

"Privar" não é o mesmo que "confinar"

         “Durante décadas a mulher foi privada ao espaço doméstico, enquanto o homem transitava livremente entre o público e o privado.” (Redação de aluno)

          Na passagem acima ocorre confusão semântica. A ideia de que a mulher foi privada da sua liberdade levou o estudante usar o verbo “privar” num contexto em que ele não cabe. O despropósito evidencia-se inclusive no domínio sintático, em que aparece uma falha de regência; ninguém priva alguém “a”; priva “de” (“O marido privou a esposa da liberdade”). A falha de regência, por sinal, sugere que o aluno tinha uma vaga ideia de qual verbo pretendia empregar.

         Eis a frase corrigida: “Durante décadas a mulher foi confinada ao espaço doméstico, enquanto o homem transitava livremente entre o público e o privado.”