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domingo, 25 de março de 2012

Nos sentimos "melhores" ou "melhor"?

            Porque ao gastarmos nos sentimos melhores?” (Redação de aluno)

        Há dois problemas nessa passagem. O primeiro é o uso de “porque” (junto). O que se tem no início da frase é o conjunto “por” (preposição) + “que” (pronome interrogativo), o qual tem valor de causa. Na resposta é que se usa a conjunção. Por exemplo: “Gastamos porque somos influenciados pela mídia.”    

       O segundo problema é a flexão de “melhor”. Na frase esse vocábulo não é adjetivo, e sim advérbio. Não se trata da percepção de “ser melhor” quando se compra (como em “A caridade nos faz pessoas melhores”), mesmo porque não haveria coerência nisso. Trata-se, isto sim, de “se sentir bem” ao gastar.  Como o advérbio é invariável, não vai para o plural. 
   
       Eis a frase corrigida: “Por que ao gastarmos nos sentimos melhor?”

terça-feira, 20 de março de 2012

Inadequações semânticas

          “O aumento do consumo mostra que o país sofre avanços”; “Para melhorar essa dificuldade, precisamos investir em educação”; “A dependência da tecnologia não traz imbróglios químicos como a das drogas”. (Redações de alunos)

          As passagens acima têm em comum o uso inadequado de palavras. Um país não “sofre”, e sim “obtém”, “conquista”, “passa por” avanços. Semelhantemente, não se “melhora” uma dificuldade. Uma dificuldade se “contorna” ou “resolve”.

          E desde quando “imbróglio” é sinônimo de problema?  Derivada de “in + bloguiare” (falsificar), essa palavra significa “confusão”, “situação difícil”, “mal-entendido” (Houaiss). Nem sempre isso corresponde a um problema, no sentido pretendido pelo aluno. Um problema se resolve; um imbrógio se desfaz. 

domingo, 18 de março de 2012

O que é um "abismo psicológico"?

         “Pais e mães que sempre sonharam com o que há de melhor para os filhos caem num abismo psicológico ao se depararem com os jovens no caminho das drogas.” (Redação de um aluno)

          No intuito de parecer profundo, o estudante por vezes compromete o rigor semântico. Usa termos vagos ou pomposos, que sacrificam a clareza da informação.

          É o que ocorre na passagem acima com “cair num abismo psicológico”.  O que vem a ser isso? Trata-se de uma ideia imprecisa, exagerada, que obscurece o sentido. Por que não dizer, simplesmente, que os pais “se frustram”, “se angustiam”, “caem em desalento”?

         O tal do “abismo psicológico”, com sua indefinida amplidão, terminou arruinando a frase.

terça-feira, 13 de março de 2012

Evite dizer "o psicológico"

        “Se for levado ao extremo, o desejo de competir afetará seriamente o psicológico do indivíduo.” (Redação de aluno)  
        “Psicológico” é um adjetivo e se encontra bem empregado em expressões como “nível psicológico”, “plano psicológico”, “aspecto psicológico” etc.
         É errado substantivá-lo para substituir os termos “psique”, “mente” ou “psiquismo”. Eis a frase corrigida:
        “Se for levado ao extremo, o desejo de competir afetará seriamente o psiquismo (a mente, a psique) do indivíduo.”

"Repulsão" ou "repulsa"?

          “As pessoas têm repulsão pelos viciados em drogas.” (Redação de aluno)

         Embora o dicionário apresente as duas palavras como sinônimas, o uso consagrou  “repulsa” para significar nojo, desprezo, execração (“a” ou “por” alguém ou alguma coisa). A “repulsão” reserva-se o sentido de “força em virtude da qual certos corpos ou partículas se repelem mutuamente” (Houaiss).

         O melhor, então, é escrever: “As pessoas têm repulsa pelos viciados em drogas.”