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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Falha no uso do tempo verbal

           “Durante três dias, eu e meu marido andávamos de abrigo em abrigo em busca de notícias do meu filho.” (Redação de aluno)

          Na passagem acima, ocorre falha na sintaxe do tempo verbal. A expressão “durante três dias” delimita o momento da ação. Não se ajusta ao imperfeito do indicativo, que indica eventos repetidos no passado (“Quando criança, ele jogava futebol”). O tempo que representa ações acabadas é o perfeito.

          Eis a frase corrigida: “Durante três dias, eu e meu marido andamos de abrigo em abrigo em busca de notícias do meu filho.”

domingo, 23 de dezembro de 2012

Confusão no emprego de parônimos

          “Os professores não ganham o mínimo suficiente para o seu mantimento.” “As mulheres, que foram tão recriminadas durante toda a história, têm conseguido seu espaço aos poucos.” (Redações de alunos)

          A semelhança de som, ou paronímia, não raro leva à confusão no emprego das palavras.  É o que ocorre nas passagens acima com os vocábulos “mantimento” e “recriminadas”. “Mantimento” é o “conjunto de gêneros alimentícios; “recriminar”, por sua vez, significa “responder uma acusação com outra”. Não eram esses os sentidos pretendidos pelos alunos.
  
          Eis as frases corrigidas: “Os professores não ganham o mínimo suficiente para a sua manutenção.” “As mulheres, que foram tão discriminadas durante toda a história, têm conseguido seu espaço aos poucos.”

domingo, 16 de dezembro de 2012

Período mal estruturado

         
          “Geralmente a família não aceita e o homossexual fica desamparado por aquelas pessoas nas quais ele sempre contou com o apoio.” (Redação de aluno)

         O período acima está mal estruturado devido a problemas na sua última oração. O aluno quer dizer que o homossexual sempre contou com o apoio das pessoas da família. No momento de formular isso, trocou o conectivo “com” por “em”. O resultado foi uma falha coesiva. 

        Há duas possibilidades de correção, conforme se faça ou não referência a “apoio”. No primeiro caso, a palavra “pessoas” será retomada pelo pronome “cujo”.

        Eis a frase corrigida: “Geralmente a família não aceita e o homossexual fica desamparado por aquelas pessoas com cujo apoio (ou: com as quais) ele sempre contou.”

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Uso inadequado da locução "dentro de"

         “No meu primeiro vestibular passei em Odontologia, mas dentro de algum tempo abandonei.” (Redação de aluno)

         Na passagem acima, o uso da locução “dentro de” torna incoerente o enunciado. Essa locução, que significa “no decorrer de um breve intervalo de tempo”, introduz algo que vai acontecer. Exemplo: “O show começará dentro de três horas.” A indicação de algo já acontecido se faz com a preposição “após” ou a locução prepositiva “depois de”.

        Eis a frase corrigida: “No meu primeiro vestibular passei em Odontologia, mas depois de algum tempo abandonei.”

domingo, 2 de dezembro de 2012

Falha de regência e coesão

           “Nietzsche critica o fato de as pessoas basearem a autoestima de acordo com a imagem que os outros têm de nós.” (Redação de aluno)

         Nessa passagem há um problema de regência e outro de coesão referencial. O de regência se refere ao conectivo que introduz o complemento do verbo “basear”; baseia-se uma coisa “em outra” e não “de acordo com outra”.

         A falha coesiva decorre de uma confusão entre pessoas gramaticais; o referente “as pessoas”, correspondente à terceira do plural, é retomado por “nós”, que pertence à primeira. 

       Eis a frase corrigida: “Nietzsche critica o fato de as pessoas basearem a autoestima na imagem que os outros têm delas.”

domingo, 18 de novembro de 2012

Quantificação indevida de "mão de obra"

         “Devido ao grande número de mão-de-obra, ocorre a hipertrofia do setor terciário.” (Redação de aluno)     

         O termo “mão de obra” (agora sem hífen) designa o trabalho por meio do qual se obtém um produto. Metonimicamente, refere-se ao conjunto dos trabalhadores, o que faz com que às vezes seja quantificado numericamente. Trata-se no entanto de uma expressão genérica, que não pode receber esse tipo de quantificação.

         Eis a frase corrigida: “Devido ao excesso de mão de obra, ocorre a hipertrofia do setor terciário.”

domingo, 11 de novembro de 2012

Confusão entre "crença" e "credibilidade"

           “Perdemos a credibilidade em nossos candidatos.”  (Redação de aluno)

          O uso de parônimos não raro se presta a confusões de sentido. Como as palavras são semelhantes, é comum o aluno trocar uma forma por outra e, com isso, gerar incoerências como a que se vê acima.

         O termo “credibilidade” designa um “atributo, qualidade, característica de quem ou do que é crível” (Houaiss). Aplica-se ao objeto, e não ao agente. Se acredito em alguém, essa pessoa tem para mim credibilidade. Quanto a mim, manifesto em relação a ela... crença.

         Eis a frase corrigida: “Perdemos a crença em nossos candidatos.”

domingo, 4 de novembro de 2012

Evite o anacoluto, pois ele quebra a unidade do período

        “Em um mundo tão heterogêneo como o nosso pode ser um obstáculo à convivência interpessoal.” (Redação de aluno)

         Na passagem acima, há quebra da estruturação sintática. Esse fenômeno, conhecido por anacoluto, ocorre quando se inicia a oração por um termo que não tem sequência, ou seja, que “sobra” e por isso trunca o sentido. No trecho do aluno, a apresentação de “mundo heterogêneo” como adjunto adverbial de lugar impede que se saiba qual o sujeito da locução “pode ser”.
       
        Uma forma de dar coerência à frase é suprimir a preposição e apresentar como sujeito a expressão que antes indicava o lugar. Por exemplo: “Um mundo tão heterogêneo como o nosso pode ser um obstáculo à convivência interpessoal.”

        Usado conscientemente, o anacoluto constitui uma figura de sintaxe. Ocorre quando o emissor, motivado pela ênfase ou por razões emocionais, muda subitamente a direção do enunciado. Exemplos: “Quem ama o feio, bonito parece”; “O menino, quem quiser que cuide dele”.

domingo, 28 de outubro de 2012

Não se flexiona o verbo da expressão "é que"

          “Para quem torce, não importa apenas competir; são nessas horas que o individualismo tanto é criticado.” (Redação de aluno)

           Na passagem acima, o verbo “ser” está indevidamente flexionado. Ele faz parte da expressão de esforço “é que”, presente em frases do tipo: “Nós é que somos brasileiros”.

         Quando os membros dessa expressão vêm separados, há uma tendência a se flexionar o verbo. Quando vêm juntos, é fácil ver que não cabe a flexão: “...nessas horas é que o individualismo tanto é criticado”.

         Eis a frase corrigida: “Para quem torce, não importa apenas competir; é nessas horas que o individualismo tanto é criticado.”

domingo, 21 de outubro de 2012

Ambiguidade por má ordenação das palavras

          “Contrariando os evolucionistas, Contardo Caligares afirma que a mulher é tão infiel quanto o homem em seu texto ‘Por que somos infelizes em amor?’” (Redação de aluno)

          Ordenar bem a frase é fundamental para lhe dar clareza e unidade. A má ordenação dificulta a apreensão da mensagem, obrigando o leitor a, no mínimo, reler o que está escrito. É o que ocorre na passagem acima, em que a má disposição dos segmentos oracionais gera ambiguidade. A fonte da afirmação de Caligares deve aparecer antes do que ele afirma, e não depois.

          Eis a frase corrigida: “Contrariando os evolucionistas, Contardo Caligares afirma em seu texto ‘Por que somos infelizes em amor?’ que a mulher é tão infiel quanto o homem.”

domingo, 14 de outubro de 2012

Ambiguidade devido ao mau uso do pronome relativo

           “Vivemos numa sociedade cuja aparência é mais importante do que a essência.” (Redação de aluno)
   
      Na passagem acima ocorre falha semântica devido ao emprego errôneo do pronome relativo. O aluno pretende criticar a sociedade atual, que valoriza mais a aparência do que a essência. Ao usar o “cujo”, ele vincula o atributo da aparência ao termo “sociedade” e estabelece uma oposição diferente da que pretendia estabelecer. Pela forma como escreveu, a oposição se dá entre “aparência da sociedade” versus “essência”, o que torna o texto incompreensível. A mudança no pronome relativo resolve o problema.

      Eis a frase corrigida: “Vivemos numa sociedade em que a aparência é mais importante do que a essência.”


domingo, 7 de outubro de 2012

Prefira a voz ativa

       “No texto ‘Cortina de burrice’, de Cláudio de Moura e Castro, é feita uma comparação entre a sociedade brasileira e a europeia.” (Redação de aluno)

        O trecho acima constitui a introdução de uma resenha crítica. Entre os problemas que ele apresenta está o uso da passiva analítica, que deve ser substituída pela passiva sintética (em vez de “é feita uma comparação”, “faz-se uma comparação”).

        Pode-se melhorar ainda mais a redação trocando a voz passiva pela voz ativa e apresentando como sujeito o termo que aparece como adjunto adnominal -- uma forma  direta e clara de indicar o autor. Eis a passagem corrigida: 

       “No texto ‘Cortina de burrice’, Cláudio de Moura e Castro faz uma comparação entre a sociedade brasileira e a europeia.”

terça-feira, 2 de outubro de 2012


Já nas bancas o Especial Redação da revista Língua Portuguesa. Confira nossos textos sobre  níveis de linguagem e erros lógicos na redação.

domingo, 30 de setembro de 2012

"visto como" ou "visto que"?

          “Visto como a poluição prejudica o desenvolvimento, é preciso punir os países que poluem.” (Redação de aluno)

         Não existe a locução “visto como”. A língua portuguesa forma locuções conjuntivas acrescentando a palavras de outras classes a conjunção “que”. Com essa função, o “que” acompanha preposições (desde que, até que), advérbios (já que, sempre que, logo que), conjunções (pois que, enquanto que) e particípios (dado que, visto que).

        A expressão “visto como” aparece na língua em construções do tipo: “Ele é visto como o chefe do bando”, em que ao particípio segue-se a preposição “como”.  Eis a frase corrigida:

        Visto que a poluição prejudica o desenvolvimento, é preciso punir os países que poluem.”

domingo, 23 de setembro de 2012

Não confunda "concorrer" com "corroborar"

      “Férias e refeições em família corroboram para a aproximação com os pais.” (Redação de aluno)

       Na passagem acima, o estudante cometeu uma falha semântica; usou o verbo  “corroborar” em lugar de “concorrer”.

       A prova de que confundiu os dois verbos é que estendeu ao primeiro a regência do segundo. “Corroborar”, que significa “confirmar”,  é transitivo direto, ou seja, dispensa a preposição ("Ele corroborou minhas suspeitas.")  Já concorrer é “transitivo indireto” e rege complemento introduzido pela preposição “para”.

       Eis a frase corrigida: “Férias e refeições em família concorrem para a aproximação com os pais.”

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Não confunda a tautologia com o "epíteto de natureza"

       “O feminismo e a luta pela igualdade de gêneros conferem a cada indivíduo o papel de agente ativo na sociedade.” (Redação de aluno)

       Na passagem acima ocorre tautologia, que é o excesso de palavras para indicar uma mesma ideia. “Agente” contém em si a noção de “atividade”, por isso é desnecessário o uso do adjetivo.

        A tautologia é um tipo vicioso de pleonasmo. Ocorre ainda quando se diz: “Chegou o dia da decisão final”, “Pedro quer apenas brincar” etc. Não se deve confundir a tautologia com o epíteto de natureza, que dá expressividade à frase: “cadáver mudo”, “pedra dura” etc. 

domingo, 9 de setembro de 2012

A diferença entre "intolerante a" e "intolerante com"

            “É normal que a sociedade seja mais tolerante a certos vícios que a outros, pois há dependências menos mal que outras.” (Redação de aluno)

            Quando o assunto é vício ligado a drogas, costuma-se distinguir “tolerante a” de “tolerante com”. A “tolerância (ou intolerância) a” diz respeito à possibilidade de o usuário suportar (ou não) os efeitos da substância em seu organismo. Já a “tolerância com” se refere ao juízo moral que se faz do seu uso.

          Existe ainda um problema morfológico; o aluno usou o advérbio “mal” em vez do adjetivo “maléfico”.

          Eis o trecho corrigido: “É normal que a sociedade seja mais tolerante com certos vícios que com outros, pois há dependências menos maléficas que outras.”

domingo, 2 de setembro de 2012

"Argumento de consequência" genérico

        “Se todos forem atingidos por algum tipo de preconceito, o mundo vai se tornar atrasado e as pessoas vão viver em depressão, o que tornará o planeta um verdadeiro caos.” (Redação de aluno)

        O argumento de consequência, como o nome diz, é aquele em que se defende uma opinião de olho nos efeitos que determinado fato ou atitude podem gerar. Ocorre, por exemplo, quando se combate a extinção das áreas verdes em prol de um ar mais puro, livre de gás carbônico. 
        Na passagem acima, um de nossos alunos lança mão desse tipo de argumento para condenar o preconceito. O problema é que os efeitos que ele apresenta são genéricos e um tanto confusos.
       A possibilidade de “o mundo se tornar atrasado”, as pessoas “ficarem deprimidas” e “o planeta se tornar caótico” não se vincula diretamente ao que o estudante pretende combater. Há consequências diretas do preconceito que, se apresentadas, teriam dado à passagem maior consistência argumentativa (o estimulo à violência e à segregação social, por exemplo).

domingo, 19 de agosto de 2012

Evite a "petição de princípio"

     “O amor é um sentimento muito complexo e exigente, que sustenta a maioria das  relações amorosas.” (Redação de aluno)

      Há nessa passagem um vício de raciocínio chamado petição de princípio. Ele consiste em apresentar uma afirmação como causa dela mesma. Ocorre quando se diz, por exemplo, que alguém “está magro porque perdeu peso”; a perda de peso constitui em si a magreza, não a provoca.

      Voltando à frase do aluno: o que sustenta a maioria das relações amorosas não pode ser o próprio amor! O aluno poderia ter mencionado "confiança", "solidariedade", "metas em comum" etc. 

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Gramática para o vestibular


Para dissertar bem, é preciso respeitar a norma culta. Confira as dicas que eu e o professor João Jonas Veiga Sobral apresentamos neste Especial de "Língua Portuguesa".

Preposição indevida

          “Não é difícil de perceber que crianças e adolescentes precisam de cuidados jurídicos a mais em relação aos adultos.” (Redação de aluno)
          Certos infinitivos antecedidos da preposição “de” têm valor passivo e funcionam como complementos oracionais dos adjetivos “fácil”, “difícil”, “agradável”, “possível”, “impossível” etc. Exemplos: fácil de perceber (de ser percebido), difícil de comer (de ser comido), agradável de olhar (de ser olhado).
          Por vezes esses infinitivos se confundem com os que introduzem sujeitos oracionais, como ocorreu no fragmento transcrito acima. O aluno se esqueceu de que sujeito não pode vir regido de preposição. Ele deveria ter escrito: “Não é difícil perceber que crianças e adolescentes precisam de cuidados jurídicos a mais em relação aos adultos.”

Como refazer textos


Confira nosso artigo sobre reescrita neste número da revista "Língua Portuguesa".

sábado, 4 de agosto de 2012

Evite anacolutos e preciosismos

“Os genitores ao educar, é necessário que haja amor, valorização e respeito, pois uma boa educação é uma agregação dessas percepções.” (Redação de um dos nossos alunos)
        Problemas de estrutura e semântica tornam incompreensível o parágrafo acima.  Quanto ao aspecto estrutural ocorre um anacoluto, ou ruptura da ordem sintática; ao sujeito “os genitores” não se segue nenhum predicado.
        Do ponto de vista semântico, a expressão “agregação dessas percepções” é preciosa, inadequada e por isso vazia. Preciosismo vocabular, por sinal, é um velho e manjado recurso para encobrir a falta de ideias. 
       Corrigida, a frase poderia ficar assim:
       “É necessário que os pais, ao educar, demonstrem amor, valorização e respeito pelos filhos, pois uma boa educação vem da soma de tudo isso”.

sábado, 28 de julho de 2012

Um caso extremo de gerundismo

       "A leitura nos proporciona uma sinestesia incrível, envolvemo-nos com as histórias narradas, saindo da realidade e adentrando no tão imprevisível e fascinante mundo da fantasia, aperfeiçoando nossa inteligência e sensibilizando nosso jeito de pensar." (Redação de aluno)  

      A passagem acima constitui um caso extremo de gerundismo. Nela o aluno enfileira os gerúndios (nada menos de quatro!) sem se preocupar com a articulação entre as orações. Disso resulta um texto mal pontuado, em que as informações se justapõem numa sequência aparentemente arbitrária. 

         Na refeitura, devem-se corrigir também as falhas de pontuação, a banalidade no emprego do adjetivo ("incrível" aí não diz nada) e a regência inadequada do verbo "adentrar" (que é transitivo direto).

          Eis a frase corrigida: "A leitura nos proporciona uma enorme troca de sensações. Envolvemo-nos com as histórias narradas, saímos da realidade e adentramos o imprevisível e fascinante mundo da fantasia. Isso aperfeiçoa nossa inteligência e sensibiliza nossa forma de pensar."

Refeitura de parágrafo (2)

         A diferença entre o respeito pelo educando de antigamente para os dias de hoje é totalmente diferente. Atualmente, o respeito praticamente acabou na sala de aula. Porque teria levado do confronto entre eles? Alguns acham que veem da educação em casa, e se alguns tiveram essa, tal educação. Pois os pais estão tão preocupados com a sua vida de trabalhadores, que esquecem de educar sobre o respeito.  (Redação de aluno) 
         Parágrafo refeito:
        O comportamento do educando de antigamente difere muito do de hoje. O respeito praticamente acabou na sala de aula, onde também se instalou a rebeldia. O que teria levado ao confronto entre aluno e professor? Alguns acham que essa hostilidade vem da educação em casa, se é que alguns a tiveram. Hoje os pais, muito ocupados com o seu trabalho, parece que se esqueceram de ensinar aos filhos o respeito.
 

domingo, 1 de julho de 2012

Evite problemas gramaticais

        “Elas passaram a priorizar o casamento com alguém que as apoiem em suas carreiras profissionais.”, “O senhor afirma que pessoas melhores educadas estão em contato com teorias evolucionistas.” (Redações de alunos)

         Nas passagens acima, ocorrem dois problemas de gramática. O primeiro está representado pela flexão indevida do verbo “apoiar”; como se refere a “alguém”, antecedente do pronome relativo “que”, esse verbo deve ficar no singular.

          A segunda consiste no uso e na flexão de “melhores”. No uso, porque antes de adjetivo ou particípio se emprega “mais bem”; na flexão, porque como advérbio “melhor” não pode ir para plural. Eis as frases corrigidas:

        Elas passaram a priorizar o casamento com alguém que as apoie em suas carreiras profissionais.”, “O senhor afirma que pessoas mais bem educadas estão em contato com teorias evolucionistas.”

domingo, 10 de junho de 2012

Incoerência por uso inadequado do conectivo

        “Quando primata, a luta travada pelo homem era contra a sobrevivência.” (Redação de aluno)

           O uso inadequado dos conectivos geralmente produz falhas de coerência. É o que ocorre na passagem acima devido ao emprego da preposição “contra”. Como esse conectivo indica oposição, o estudante dá a entender que o homem, num momento remoto da sua história, se opunha a sobreviver.

          Esse tipo de falha resulta de um cruzamento de ideias. Ocorria ao aluno que, para sobreviver, o homem teve de lutar contra fatores adversos. Mas na hora de passar a ideia para o papel, ele apresentou como antagonista justamente o beneficiário dessa luta;  daí o efeito paradoxal. Eis a frase corrigida:       

         “Quando primata, a luta travada pelo homem era pela sobrevivência.”

terça-feira, 29 de maio de 2012

Evite a quebra do paralelismo sintático


        “A luta pela igualdade de gêneros no Brasil já obteve várias vitórias, como: a igualdade salarial, mulheres ocupam cargos de chefia em empresas e até mesmo a chegada de uma mulher à presidência da República.” (Redação de aluno)

        No parágrafo acima, ocorre quebra do paralelismo sintático. Ao ilustrar as vitórias das mulheres, o estudante mistura as classes e mesmo as estruturas gramaticais: primeiro aparece um substantivo (igualdade) e depois uma oração (mulheres ocupam...).
       O princípio do paralelismo determina que os termos coordenados devem apresentar a mesma forma. Eis uma correção possível:

        “A luta pela igualdade de gêneros no Brasil já obteve várias vitórias, como a igualdade salarial, a ocupação por mulheres de cargos de chefia em empresas e até mesmo a chegada de uma delas à presidência da República.”

terça-feira, 22 de maio de 2012

Enunciados ambíguos dificultam a leitura

      "A maioria das redes e blogs dá apenas uma visão parcial do  indivíduo que publica." (Redação de aluno)

      Ao redigir, deve-se evitar ambiguidade. Na passagem acima, o aluno não deixa claro se o verbo publicar se refere a “maioria” ou a “indivíduo”.  Uma alternativa para desfazer a confusão é fazer esse verbo concordar com o termo geral (redes):

     "A maioria das redes e blogs dá apenas uma visão parcial do indivíduo que publicam."

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Cuidado com os advérbios em "mente"

       Os advérbios em “mente” pouco ou nada informam e devem, na maioria das vezes, ser cortados. Por que dizer que somos um povo intrinsecamente alegre? Haverá por acaso uma alegria extrínseca?

       São comuns nas redações frases como: “Precisamos verdadeiramente combater o nepotismo”; “Nossas autoridades estão sistematicamente deixando de lado o ensino público”;  “O País caminha inexoravelmente para o caos”. Esses termos quilométricos constituem um cacoete e não  trazem nenhum acréscimo ao sentido.

      Um dos que merecem especial cuidado é "literalmente”. Ele só deve ser usado quando, entre dois sentidos possíveis, se quer destacar o que está “de acordo com a letra” (ou seja, o literal).

      Se se diz que alguém está “literalmente na fossa”, ninguém vai pensar que ele está deprimido. Entende que caiu mesmo em algum tanque malcheiroso. Daí a pergunta que leva à piadinha: “Morreu? “Não. Escapou fedendo.”

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Está certo dizer “A decisão cabe recurso”?

            Não. Dessa forma, parece que “a decisão” é sujeito do verbocaber” -- e “recurso”, o seu objeto direto. 
            Caber” é um verbo intransitivo, não necessita de complemento. Alguma coisa cabe, ou seja, é cabível. O que é cabível, no caso, é recorrer da decisão (“recorrer” no sentido de “interpor recurso”, é transitivo indireto). 
            Pode-se então dizer “Da decisão cabe recursoou, transferindo o complemento nominal para depois de “recurso”, que o rege: “Cabe recurso da decisão” Ou ainda: “Cabe recorrer da decisão”.
            Caso se queira manter “a decisãocomo sujeito, pode-se trocar o verbocaberporensejar”, “possibilitar”, “dar margem a” etc.: “A decisão enseja (possibilita, dá margem a) recurso.”

terça-feira, 1 de maio de 2012

O que é "disfemismo"?

É o oposto de “eufemismo”.  Ele intensifica o conteúdo negativo de determinadas ações, qualidades, estados de alma. Zélio dos Santos Jota, em seu “Dicionário de Linguística”, dá como exemplos “calhambeque”, “poetastro”, “mediquinho” e “velhote”. 
Na versão disfêmica, essencialmente depreciativa, o muito feio passa a “horrendo”, “um parto”, “um frankenstein”. O pouco inteligente é chamado de “anta’, “burro”, “quadrúpede”, e assim por diante.

sábado, 28 de abril de 2012

O verbo "tratar-(se)"

         “A adolescência trata-se de um período conturbado na vida de qualquer pessoa. (Redação de aluno)                    

         Um problema gramatical frequente nas redações é o uso do verbo “tratar(-se)” conforme a passagem acima.
          Esse verbo é transitivo indireto; logo, quando seguido pela partícula “se”, constitui um caso de sujeito indeterminado. Se há indeterminação, não tem sentido considerar-se “a adolescência” como sujeito.
         Em vez de “trata-se”, o estudante deveria ter usado “é” ou forma verbal semelhante. Por exemplo: 
      “A adolescência é (constitui, representa) um período conturbado na vida de qualquer pessoa.”      

domingo, 8 de abril de 2012

"Razões pela qual"?

        “Homossexualidade, aversão à estrangeiros, timidez, obesidade são algumas das razões pela qual levam o agressor a atingir a vítima”. (Redação de aluno)

        Na passagem acima, além do uso indevido do acento grave em “à”, ocorre falha coesiva. O acento não se justifica porque esse “a” é apenas preposição; se um artigo se fundisse a ela, seria “os” e não “a”, o que determinaria a aglutinação “aos (estrangeiros)”.

       A falha de coesão está no uso de “pela qual” em vez de “que”; este pronome retoma “razões” e constitui o sujeito do verbo levar (“... que levam o agressor a atingir a vítima”). Caso se mantenha o “pelas quais” (flexão correta), é preciso reestruturar o período:
       
        “Homossexualidade, aversão a estrangeiros, timidez, obesidade são algumas das razões pelas quais o agressor é levado a atingir a vítima.”

domingo, 1 de abril de 2012

Mau uso do verbo "tachar"


          “As pessoas são tachadas pelo que mostram de si e submetem-se, por isso, aos ideais estabelecidos pela sociedade.” (Redação de aluno)

         “Tachar” (não confundir com “taxar”) significa “pôr nódoa ou defeito em alguém (ou em algo)”. É um verbo “transitivo predicativo”, ou seja, requer além do objeto direto um termo que representa o julgamento que o sujeito faz sobre esse objeto. Por exemplo: “O diretor tachou o rapaz de vagabundo”; “A Câmara tachou a atitude do ministro de imoral”.

         O aluno cometeu uma falha de regência ao não informar de quê as pessoas são tachadas. Na verdade, usou impropriamente “tachar”; deveria ter optado por “julgar”, “avaliar” ou semelhante:

         “As pessoas são julgadas (avaliadas) pelo que mostram de si e submetem-se, por isso, aos ideais estabelecidos pela sociedade.”

domingo, 25 de março de 2012

Nos sentimos "melhores" ou "melhor"?

            Porque ao gastarmos nos sentimos melhores?” (Redação de aluno)

        Há dois problemas nessa passagem. O primeiro é o uso de “porque” (junto). O que se tem no início da frase é o conjunto “por” (preposição) + “que” (pronome interrogativo), o qual tem valor de causa. Na resposta é que se usa a conjunção. Por exemplo: “Gastamos porque somos influenciados pela mídia.”    

       O segundo problema é a flexão de “melhor”. Na frase esse vocábulo não é adjetivo, e sim advérbio. Não se trata da percepção de “ser melhor” quando se compra (como em “A caridade nos faz pessoas melhores”), mesmo porque não haveria coerência nisso. Trata-se, isto sim, de “se sentir bem” ao gastar.  Como o advérbio é invariável, não vai para o plural. 
   
       Eis a frase corrigida: “Por que ao gastarmos nos sentimos melhor?”

terça-feira, 20 de março de 2012

Inadequações semânticas

          “O aumento do consumo mostra que o país sofre avanços”; “Para melhorar essa dificuldade, precisamos investir em educação”; “A dependência da tecnologia não traz imbróglios químicos como a das drogas”. (Redações de alunos)

          As passagens acima têm em comum o uso inadequado de palavras. Um país não “sofre”, e sim “obtém”, “conquista”, “passa por” avanços. Semelhantemente, não se “melhora” uma dificuldade. Uma dificuldade se “contorna” ou “resolve”.

          E desde quando “imbróglio” é sinônimo de problema?  Derivada de “in + bloguiare” (falsificar), essa palavra significa “confusão”, “situação difícil”, “mal-entendido” (Houaiss). Nem sempre isso corresponde a um problema, no sentido pretendido pelo aluno. Um problema se resolve; um imbrógio se desfaz. 

domingo, 18 de março de 2012

O que é um "abismo psicológico"?

         “Pais e mães que sempre sonharam com o que há de melhor para os filhos caem num abismo psicológico ao se depararem com os jovens no caminho das drogas.” (Redação de um aluno)

          No intuito de parecer profundo, o estudante por vezes compromete o rigor semântico. Usa termos vagos ou pomposos, que sacrificam a clareza da informação.

          É o que ocorre na passagem acima com “cair num abismo psicológico”.  O que vem a ser isso? Trata-se de uma ideia imprecisa, exagerada, que obscurece o sentido. Por que não dizer, simplesmente, que os pais “se frustram”, “se angustiam”, “caem em desalento”?

         O tal do “abismo psicológico”, com sua indefinida amplidão, terminou arruinando a frase.

terça-feira, 13 de março de 2012

Evite dizer "o psicológico"

        “Se for levado ao extremo, o desejo de competir afetará seriamente o psicológico do indivíduo.” (Redação de aluno)  
        “Psicológico” é um adjetivo e se encontra bem empregado em expressões como “nível psicológico”, “plano psicológico”, “aspecto psicológico” etc.
         É errado substantivá-lo para substituir os termos “psique”, “mente” ou “psiquismo”. Eis a frase corrigida:
        “Se for levado ao extremo, o desejo de competir afetará seriamente o psiquismo (a mente, a psique) do indivíduo.”

"Repulsão" ou "repulsa"?

          “As pessoas têm repulsão pelos viciados em drogas.” (Redação de aluno)

         Embora o dicionário apresente as duas palavras como sinônimas, o uso consagrou  “repulsa” para significar nojo, desprezo, execração (“a” ou “por” alguém ou alguma coisa). A “repulsão” reserva-se o sentido de “força em virtude da qual certos corpos ou partículas se repelem mutuamente” (Houaiss).

         O melhor, então, é escrever: “As pessoas têm repulsa pelos viciados em drogas.”

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Não se deve confundir a ação com o agente

         “Consumismo é o ato de comprar produtos sem necessidade. É o compulsivo que se deixa controlar pelo marketing das empresas.”  (Redação de aluno)

         O estudante começa o parágrafo definindo o “consumismo”; no inicio do segundo período, tenta retomar esse termo por meio de “compulsivo”.  Ou seja: confunde a ação com o agente. Diante disso, não há referente para consumismo, o que constitui uma falha de coesão.

        O problema pode ser resolvido com uma pequena mudança na redação do segundo período. Por exemplo:
         “Consumismo é o ato de comprar produtos sem necessidade. Afeta os indivíduos compulsivos que se deixam controlar pelo marketing das empresas.”

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Confusão entre "postura" e "compostura"

          “Antes da internet, como nossa comunicação era sobretudo oral, devíamos nos preocupar com nossa compostura e desenvoltura.” (Redação de aluno)

           Nessa passagem há uma confusão entre “compostura” e “postura”. Esta última diz respeito à maneira de “manter o corpo ou compor os traços fisionômicos” (Houaiss). A preocupação com ela deve ser maior na comunicação oral, pois falando aos outros expomos nosso corpo e nossa fisionomia.

           No entanto, não é privativo do intercurso oral o “cuidado com a educação, a sobriedade e o comedimento”. Tais características, que definem a compostura, são importantes tanto na fala (em que há presença física) quanto nos contatos virtuais da internet. O aluno dá a entender que os internautas são deselegantes.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

"Inconteste" não é o mesmo que "incontestável"

    “O deputado firmou uma posição inconteste a favor da transposição.”
     (Redação de aluno)

   Nessa frase há inadequação semântica. “Inconteste” significa “contrário”, “discrepante”, “não testemunhado”. Não é sinônimo de "incontestável", que se deriva do verbo "contestar" (negar, refutar)  
   O fato de serem parônimas (ou seja, apresentarem semelhança na forma) leva comumente a que se troque uma pela outra. É preciso ficar atento. 

      Eis a frase corrigida:  “O deputado firmou uma posição incontestável (irrefutável) a favor da transposição.” 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Não existe "adéqua"

          “Por isso, devemos escolher o curso que mais se adéqua a nossa natureza.” (Da redação de um aluno)

         O verbo “adequar” é defectivo; por razões de eufonia, ele não se flexiona em todas as pessoas do presente do indicativo, do subjuntivo, e nas formas do imperativo delas derivadas. É conjugado apenas nas formas arrizotônicas, ou seja, aquelas em que a sílaba tônica está fora do radical (nós adequamos, vós adequais; nós adequemos, vós adequeis).

          Sendo assim, não existe “adéquo” (assim como não existem “adéquas”, “adéquam”; “adeque”, “adeques”, “adequem”). A saída, em casos como esse, é substituir a forma verbal por um sinônimo: “Por isso, devemos escolher o curso que mais se ajusta a nossa natureza.”