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domingo, 27 de dezembro de 2015

Passiva analítica e outras coisas mais

“É dito que para ter sucesso é preciso ter uma boa auto-estima, assim como para gostar de si mesmo é necessário ser bem sucedido.” (Redação de aluno)´

Na passagem acima há falhas de estilo, semântica e ortografia. A primeira consiste no uso da passiva analítica (é dito), que soa pouco natural e pode ser substituída, com vantagem, pela passiva sintética (diz-se). A falha semântica decorre do uso do adjetivo “boa” antes de “autoestima”, o que constitui uma redundância. Os erros ortográficos dizem respeito ao emprego do hífen.
O raciocínio do aluno parece recorrente, mas ele pretendeu apresentar um círculo vicioso. A autoestima tanto condiciona o sucesso, como é condicionada por ele.

      Eis a frase corrigida: “Diz-se que para ter sucesso é preciso ter autoestima, assim como para gostar de si mesmo é necessário ser bem-sucedido.”

domingo, 20 de dezembro de 2015

Informalidade e falha lógica

“O computador apresenta aspectos positivos e negativos. Ele pode te ajudar ou ser como uma droga. Cabe a você escolher certo o tipo de heroína que você quer que ele seja.” (Redação de aluno)

         A dissertação argumentativa pede uma linguagem sóbria e objetiva. Na passagem acima o uso dos pronomes “te” e “você” constitui um recurso informal, que não se ajusta a esse tipo de texto. Além do problema quanto ao registro, ocorre na referida passagem uma falha lógica: o aluno apresenta duas alternativas que se excluem (entre ajudar e viciar), mas ao citar “heroína” no segundo período considera apenas a possibilidade do vício.

       Eis o texto corrigido: “O computador apresenta aspectos positivos e negativos. Ele pode ajudar ou ser como uma droga. Cabe à pessoa escolher o que quer que ele seja.”

domingo, 13 de dezembro de 2015

Cuidado com o "frankenstein" linguístico

“Os estudos afirmando que as mulheres menos dependentes são mais desejadas, certamente foi analisado por homens de mentes arcaicas e machistas. (Redação de aluno)

Na passagem acima, um pequeno frankenstein linguístico,  há problemas de gramática, pontuação, semântica e, sobretudo, coerência. Comecemos pelo último, que é o mais grave. A ideia de que as mulheres menos dependentes são mais desejadas não se coaduna com a mentalidade machista, que prega justamente a submissão da mulher. O lógico é que os machistas considerem as mais independentes menos desejadas.
A falha gramatical é de concordância, pois o sujeito “os estudos” determina verbo no plural. Quanto à pontuação, não se separa o sujeito do predicado, daí ser errado usar vírgula após “desejadas”. A falha semântica, por fim, consiste no uso do verbo “analisar” em vez, por exemplo, do verbo “fazer”

        Eis a frase corrigida: “Os estudos afirmando que as mulheres mais independentes são menos desejadas certamente foram feitos por homens de mentes arcaicas e machistas.”

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Falta de ordem pode gerar incoerência

“Como se não bastasse, a falta de consciência da população, dita como um recurso inesgotável, problematiza a escassez de água.” (Redação de aluno)

A falta de ordem pode gerar incoerência textual. É o que ocorre na passagem acima, onde o aluno dá a entender que “um recurso inesgotável” se refere à falta de consciência da população, e não à água. Além disso ele comete imprecisão vocabular, usando “dita” (particípio do verbo “dizer”) em vem vez de “tida” (particípio do verbo “ter”).

          Eis a frase corrigida: “Como se não bastasse, a falta de consciência da população problematiza a escassez de água, tida como um recurso inesgotável.”

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Flexão verbal

“Seria sensato recorrer a cirurgias plásticas apenas em casos em que a saúde está em jogo.” (Redação de aluno)

É preciso, na redação, correlacionar adequadamente os modos e tempos verbais. O autor da frase acima não observou isso. Iniciou-a com o futuro do pretérito (Seria), que indica condição, mas não adaptou o verbo da oração adjetiva a esse contexto condicional.
O futuro do pretérito se correlaciona com o imperfeito do subjuntivo. Por exemplo: “O aluno passaria se estudasse mais”. Geralmente se quebra essa correspondência levando o verbo da oração subordinada para o presente do indicativo (O aluno passaria se estuda mais) ou para o futuro do subjuntivo (O aluno passaria se estudar mais.

Eis a frase corrigida: “Seria sensato recorrer a cirurgias plásticas apenas em casos em que a saúde estivesse em jogo.”

domingo, 22 de novembro de 2015

Evite a quebra sintática (anacoluto)

“O Brasil, sendo o segundo país com impostos mais altos do mundo, em vez de investir em saúde, educação e segurança, fortunas foram gastas em investimentos para a Copa do Mundo e a recepção para os estrangeiros.” (Redação de aluno)

Na passagem acima ocorre uma falha de coesão. O uso da locução “em vez de” faz esperar que “o Brasil” continue como sujeito do verbo “gastar”. O aluno não respeitou isso e introduziu, inadequadamente, uma voz passiva em que “fortunas” aparece como o novo sujeito. O resultado é uma quebra que dá à frase o aspecto de um anacoluto (figura em que um termo – no caso, “o Brasil” – fica excluído da cadeia sintática).

         Eis a frase corrigida: “O Brasil, sendo o segundo país com impostos mais altos do mundo, em vez de investir em saúde, educação e segurança, gasta fortunas em investimentos para a Copa do Mundo e a recepção aos estrangeiros.”

domingo, 15 de novembro de 2015

Falha de coesão e impropriedade semântica

“No livro ‘A culpa é das estrelas’, no qual se retrata a vida de dois jovens, Hazel e Gus, acarretados pelo câncer e ainda assim vivem um intenso amor.” (Redação de aluno)

 Na passagem acima ocorre falha de coesão e impropriedade semântica. A falha coesiva é provocada pele emprego do conectivo “no qual”, que repete indevidamente a ideia de lugar e com isso deixa o enunciado sem oração principal. A falha semântica consiste no uso de “acarretados”, que nada tem a ver com o contexto.
 
         Eis a frase corrigida: “No livro ‘A culpa é das estrelas’, retrata-se a vida de dois jovens, Hazel e Gus, que foram acometidos pelo câncer e ainda assim vivem um intenso amor.”

domingo, 8 de novembro de 2015

Tautologia (de novo)

“Numa sociedade justa não existem privilégios exclusivos para determinada classe, pois todas possuem direitos iguais.” (Redação de aluno)

Na passagem acima ocorre redundância. Mais precisamente, uma tautologia, que é o excesso de palavras para indicar uma mesma ideia. 
O termo “privilégios” significa “direito, vantagem, prerrogativa, válidos apenas para um indivíduo ou um grupo” (Houaiss). Isso já supõe a ideia de exclusividade e dispensa, portanto, o adjetivo usado pelo aluno.


Eis a frase corrigida: “Numa sociedade justa não existem privilégios para determinada classe, pois todas possuem direitos iguais.”

A redação do Enem 2015

O tema de redação do Enem 2015 não foi surpresa; há algum tempo se espera que o exame trate da violência contra a mulher. Talvez para justificar a inclusão de um tema tão esperado, a banca optou por antepor ao termo “violência” o substantivo “persistência”. Com isso acrescentou um dado novo, que modificou um pouco o foco.  O candidato teria que discutir não propriamente as ações violentas contra o sexo feminino, mas as razões da sua continuidade a despeito de medidas que foram tomadas – sendo a mais significativa delas a promulgação, em 2006, da Lei Maria da Penha.  
Um dos pontos fracos da apresentação do tema foi o excesso de dados estatísticos nos textos motivadores. Três deles praticamente se limitaram a trazer números, deixando de lado juízos, comentários, considerações críticas que comumente aparecem na prova e servem de referências para os alunos. Os números, é claro, são indícios de evidências factuais, mas não definem a situação; não trazem um posicionamento que sirva de parâmetro para o desenvolvimento do tema.
Além do mais, nem todas as estatísticas eram claras. Os dados que aparecem no primeiro texto motivador, por exemplo, são ambíguos. Lá se afirma que, “nos 30 anos decorridos entre 1980 e 2010 foram assassinadas no país acima de 92.000 mulheres, 43,7 mil só na última década”. Em seguida, diz-se que “o número de mortes nesse período passou de 1.353 para 4.465 (...)”. Quantas mulheres, enfim, morreram – acima de 92.000 ou 4.465?  Mesmo que o período mencionado se refira apenas à última década, já foi dito que nela morreram 43,7 mil, ou seja, bem mais do que 4.465.
Por outro lado, a presença das estatísticas permitia que o aluno selecionasse de um vasto repertório as que poderiam subsidiar a sua argumentação. Não havia como se opor ao que o tema afirmava, pois os indicadores eram suficientes para comprovar a persistência da violência masculina. Cabia então ao candidato discutir os motivos dessa continuidade, e para isso ele dispunha de um bom material no quarto texto motivador, que trazia dados sobre a lei Maria da Penha. O fato de apenas 34% de 332.216 processos terem sido julgados seria uma boa razão. Outra poderia ser a educação para o machismo ou a discriminação no mercado de trabalho, que diminui a representatividade social da mulher.
Li críticas ao tema, com a alegação de que ele era excessivamente “feminista”. Muitos o associaram a uma famosa passagem de Simone de Beauvoir, segundo a qual “ninguém nasce mulher; torna-se mulher”, para apontar um possível radicalismo na defesa da emancipação feminina. Essa crítica me parece tão tola quanto dizer que a dimensão biológica (do homem ou da mulher) não tem nenhum papel na determinação do comportamento das pessoas.
O que a autora de “O segundo sexo” pretende na referida passagem (objeto de uma questão do exame) é denunciar uma sociedade que tende a conferir à mulher um papel inferior. Essa inferioridade tem sido a matriz de uma violência que os dados presentes nos textos motivadores fartamente demonstravam.
     O tema foi considerado “fácil” pela maioria dos candidatos. Essa facilidade, contudo, pode representar uma armadilha. Temas previsíveis geralmente produzem lugares-comuns argumentativos. Os candidatos, em sua maioria, têm mais ou menos o que dizer sobre eles – mas dizem as mesmas coisas! Diante disso, vão se sair melhor os que forem capazes de aprofundar a abordagem ou assumir um posicionamento original. Sem esquecer, claro, de estruturar com correção e clareza o texto.

domingo, 1 de novembro de 2015

Lacuna de sentido e problemas semânticos

“A Lei Maria da Penha garante punições aos agressores de mulheres no âmbito doméstico. Foi alegado que Eliza Samudio não precisava de proteção do Estado pois não participava da atmosfera familiar de Bruno Sousa. Porém, a relação ‘não oficial’ acabou resultando na tragédia que chocou o Brasil.” (Redação de aluno)

A passagem acima apresenta uma lacuna de sentido entre o primeiro e o segundo períodos; para referir a alegação de que Elisa Samudio não precisa da proteção do Estado, é preciso antes informar que ela solicitou essa proteção. Apresenta também impropriedades semânticas (garante, âmbito doméstico, atmosfera familiar) e um problema coesivo (uso de “porém” no lugar de um conectivo que indique conclusão).

        Eis a passagem corrigida: “A Lei Maria da Penha prevê punição aos agressores de mulheres que sofrem violência doméstica. Eliza Samudio, dias antes de ser assassinada, apelou à Justiça com base nessa lei. Alegou-se que ela não fazia jus à proteção do Estado, pois não tinha um vínculo estável com Bruno de Sousa. Diante disso, a relação ‘não oficial’ acabou resultando na tragédia que chocou o Brasil.”

domingo, 25 de outubro de 2015

ENEM 2015 - Tema "A violência contra a mulher" já foi trabalhado no Curso Chico Viana

                                                              TEMA DE REDAÇÃO          

            Leia:

                                                                    I
             Uma pesquisa realizada pelo Ipea quis saber as opiniões do brasileiro quanto à violência contra a mulher. O mais chocante – 65% dos brasileiros concordam com a ideia de que mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. Não basta que o comportamento feminino seja alvo de restrições maiores que o masculino: é tolerável que os desvios de conduta sejam punidos.
  
                                                                   II
         Reconhecida pelas Nações Unidas como uma das melhores legislações no enfrentamento à violência contra a mulher, a Lei Maria da Penha, em vigor desde 2006, ainda não fez, de acordo com especialistas, com que uma parcela da sociedade passe a ver as mulheres como cidadãs. Ao comentar os estudos do Ipea, Samira Bueno, socióloga e diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é taxativa: “mulher é vista como propriedade. Homem pode fazer o que quiser do corpo feminino”.
                                                                  III
      VEJA Recentemente a senhora foi criticada por declarar que as mulheres deveriam pensar melhor no que vestem para não ficar tão vulneráveis. O que quis dizer?
      CAMILLE PAGLIA Eu apoio totalmente as mulheres que se vestem de maneira sexy. Mas quem faz isso tem de compreender que sinais está enviando. As mulheres americanas de alta classe usam roupas sexy, mas seu corpo está morto, sua mente está morta. (Entrevista nas Páginas Amarelas de Veja)
                                                               ****

          A partir dos fragmentos acima, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema “Violência contra a mulher -- aspectos políticos e comportamentais”. Avalie os efeitos até agora obtidos no Brasil com a Lei da Maria da Penha e discuta opiniões como a da escritora Camille Paglia, que critica os avanços feministas e defende que as mulheres devem se dedicar sobretudo à casa e aos filhos. Escreva entre 25 e 30 linhas. Dê um título à sua redação.

Não se flexiona verbo impessoal

“A média global de chuva é em torno de 800 mm no ano, e no Brasil são raras as regiões que chovem menos do que isso.” (Redação de aluno) 

         Na passagem acima o verbo “chover” está flexionado, concordando com o pronome relativo que retoma “regiões”. Ocorre que esse verbo é impessoal, pois indica um fenômeno da natureza; logo, não admite sujeito. Não se pode dizer que “as regiões chovem”, a não ser que se use esse verbo em sentido figurado. 
          Na correção, apresenta-se “regiões” como um adjunto de lugar, o que implica antepor ao pronome relativo a devida preposição.
  
          Eis a frase corrigida: “A média global de chuva é em torno de 800 mm no ano, e no Brasil são raras as regiões em que chove menos do que isso.”

domingo, 18 de outubro de 2015

Falha gramatical e quebra do paralelismo

“A partir dos esforços internacionais, daquela década em diante tornaram-se conhecidas quão nocivas são as atividades humanas para a natureza e que o futuro na Terra só será possível com a preservação ambiental.” (Redação de aluno)

         A frase acima contém problemas de gramática e estruturação. A falha gramatical está representada pela flexão no plural da locução “tornou-se conhecido” (tornaram-se conhecidas). O sujeito dessa locução não é “as atividades humanas”, mas a oração seguinte.
A falha estrutural rural consiste na quebra do paralelismo entre as duas orações subjetivas; para haver harmonia, ambas devem começar pela conjunção “que”.
        
        Eis a frase corrigida: “A partir dos esforços internacionais, daquela década em diante tornou-se conhecido que as atividades humanas são muito nocivas para a natureza e que o futuro na Terra só será possível com a preservação ambiental.”

domingo, 11 de outubro de 2015

Tautologia com o verbo "urgir"

“Em virtude da crise humanitária à qual o mundo assiste, urge a necessidade da solidariedade entre os povos.” (Redação de aluno)  

         Na passagem acima ocorre tautologia, que é a repetição de uma ideia com palavras diferentes. Um dos sentidos do verbo “urgir” é “ser necessário”. Logo, constitui redundância afirmar que “urge uma necessidade”.


Eis a frase corrigida: “Em virtude da crise humanitária à qual o mundo assiste, urge que os povos sejam solidários.”

domingo, 4 de outubro de 2015

Evite o preciosismo

“O triunfante pode ter feito por merecer, ou quiçá possua maior propulsão geneticamente para a glória.” (Redação de aluno)

O autor da passagem acima tem a mania de “escrever difícil”. Ao invés de simplificar, complica. Como não vai ao dicionário para ver o exato sentido das palavras, usa as que lhe ocorrem e satisfazem o seu preciosismo (que é justamente o hábito de usar palavras pouco comuns).

A primeira inadequação é a troca de “vencedor” por “triunfante”. Quem vence triunfa, claro, mas não é comum se dizer, por exemplo, que Lewis Hamilton foi o “triunfante” de tal prêmio de Fórmula Um. O segundo vocábulo precioso é “quiçá”, em oposição a “talvez”. Eles são sinônimos, mas o espanholismo soa um tanto pernóstico.

O terceiro emprego vocabular indevido está no uso de “propulsão” em vez de “propensão”. “Propulsão” é “impulso” e não se confunde com “tendência”, ou “pendor”, que são mais adequados para caracterizar a influência genética.  

Eis a frase corrigida: “O vencedor pode ter feito por merecer, ou talvez possua maior propensão genética para a glória.”

domingo, 20 de setembro de 2015

Emprego de "cuja" e outros problemas

“O evento será sediado em um país cuja sua infraestrutura não é adequada para as pessoas, a criminalidade é alta, e cresce cada vez mais.” (Redação de aluno)

Na passagem acima ocorre erro no emprego do pronome relativo. “Cujo” e flexões não podem vir antecedidos de pronomes possessivos. Há também falha coesiva, pois a partir de “a criminalidade” vai-se falar do que ocorre “no país”; logo, o conectivo deve traduzir ideia de lugar. Também é dispensável a vírgula após o adjetivo “alta”.


Eis a frase corrigida: “O evento será sediado em um país cuja infraestrutura não é adequada para as pessoas e onde a criminalidade é alta e cresce cada vez mais.”

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O uso do verbo "atribuir"

“Cada vez mais o individual se sobrepõe ao coletivo. Atribui-se a isso a mentalidade capitalista que domina o mundo, na qual os interesses individuais estão acima do bem estar social.” (Redação de aluno)

Na passagem acima, há um equívoco na atribuição dos complementos do verbo “atribuir”. Um dos sentidos desse verbo, segundo o Houaiss, é o de “considerar alguém (ou algo) causador”. Por coerência, o capitalismo é que causa a gradativa sobreposição do individual ao coletivo – e não o contrário.
Logo, “a mentalidade capitalista” deve aparecer como objeto indireto, e o pronome “isso” como objeto direto (ou, no caso, sujeito de uma voz passiva). Na refeitura, deve-se também corrigir a falha no emprego do pronome relativo e a ortografia de “bem-estar” (que tem hífen).

        Eis a frase corrigida: “Cada vez mais o individual se sobrepõe ao coletivo. Atribui-se isso à mentalidade capitalista que domina o mundo, segundo a qual os interesses individuais estão acima do bem-estar da sociedade”.

domingo, 16 de agosto de 2015

O verbo "proliferar"

“A mídia pode usar suas diversas ferramentas de comunicação para proliferar a ideia de que não devemos permitir a banalização desse direito.” (Redação de aluno)

 Na passagem acima há um problema de regência. O verbo “proliferar”, que significa “propagar-se, crescer em número”, é intransitivo. O aluno o flexionou como transitivo direto, considerando “a ideia” como objeto direto quando ela na verdade é sujeito.
          
Há duas formas de corrigir a frase:  
- a primeira é substituir “proliferar” por um sinônimo: “A mídia pode usar suas diversas ferramentas de comunicação para disseminar (propagar) a ideia de que não devemos permitir a banalização desse direito”;
- a segunda é antepor a “proliferar” um verbo causativo do qual “a mídia” seja o sujeito: “A mídia pode usar suas diversas ferramentas de comunicação para fazer proliferar a ideia de que não devemos permitir a banalização desse direito”.

          Outro erro comum é dar esse verbo como pronominal: “A doença se proliferou por falta de boas condições higiênicas”. “Flexionar” dispensa o pronome. Deve-se dizer: “A doença proliferou por falta de boas condições higiênicas.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Evite o "erro de acidente"

“Cinco rapazes atearam fogo no índio Galdino Jesus dos Santos, enquanto a vítima dormia numa parada de ônibus em Brasília. Esse fato, mesmo ocorrido há 18 anos, revela que os índios são vistos por grande parcela dos brasileiros não como compatriotas, mas como uma sociedade à parte.” (Redação de aluno).

Ocorre na passagem acima uma falácia conhecida como erro de acidente. Ela consiste em tomar o acidental pelo geral, o que leva a generalizações indevidas.
O aluno afirma que “cinco rapazes” atearam fogo em Galdino, e disso conclui que “grande parcela dos brasileiros” tende a excluir os índios.
O gesto dos rapazes não deixa de refletir uma mentalidade discriminatória, mas a indignação que provocou demonstra que a maior parte dos brasileiros não compartilha com o desprezo e a rejeição aos indígenas. É preciso ter cuidado com as extrapolações, que nem sempre correspondem à verdade.

domingo, 21 de junho de 2015

Fique atento à preposição que introduz o pronome relativo

“A conquista do mercado de trabalho possibilitou maior independência financeira, na qual, as mulheres, agora são capazes de tomar suas próprias decisões.” (Redação de aluno)  


      Na passagem acima há uma falha coesiva e outra de pontuação. A primeira está representada pelo uso da locução “na qual”. A preposição “em” não traduz adequadamente a relação entre a capacidade de tomar decisões e a independência financeira das mulheres. Uma coisa não está “na” outra; é função ou efeito da outra.      

      A falha de pontuação reside no uso de vírgulas após “na qual”. A segunda vírgula, por exemplo, infringe a norma por separar o sujeito (as mulheres) do predicado.

          

    Eis a frase corrigida: “A conquista do mercado de trabalho possibilitou maior independência financeira, em função da qual as mulheres agora são capazes de tomar suas próprias decisões.”

domingo, 7 de junho de 2015

Má escolha do conectivo muda o sentido da frase

“A insegurança no trabalho vem aumentando muito por parte do corpo docente.” (Redação de aluno)

          Os conectivos não servem apenas ligar orações ou partes de orações. Servem também para acrescentar determinados sentidos à frase. Na passagem acima, por exemplo, a locução prepositiva “por parte de” dá a entender que o corpo docente é responsável pela insegurança no trabalho. Isso, obviamente, não corresponde à realidade. Quem acompanha o noticiário sabe que os professore se sentem cada vez mais inseguros devido às agressões e desacatos que sofrem na sala de aula.

           Eis a frase corrigida: “A insegurança no trabalho vem aumentando muito entre os membros do corpo docente.”

domingo, 31 de maio de 2015

Uso inadequado do conectivo e outros problemas

          “A legalização das drogas é um tema polêmico e atual. Uma vez que muitos acreditam que legalizar diminuiria o tráfico, outros acreditam ser inaceitável devido aos transtornos que a mesma proporciona.” (Redação de aluno)

 Na passagem acima ocorrem, pela ordem, problemas coesivo, semântico e gramatical. A falha de coesão decorre do uso inadequado do conectivo “uma vez que”; tal locução é inadequada para estruturar o contraste entre quem é a favor e quem é contra a legalização das drogas. A falha semântica consiste na repetição do verbo “acreditar”, que torna monótono o enunciado. A falha gramatical, por fim, está representada pelo uso de “a mesma” como pronome pessoal.

         Eis a passagem corrigida: “A legalização das drogas é um tema polêmico e atual. Enquanto muitos acham que legalizar diminuiria o tráfico, outros acreditam ser isso inaceitável devido aos transtornos que proporciona.”

domingo, 24 de maio de 2015

Lacuna entre as ideias e falha semântica

“A violência ocorria quase que exclusivamente nas ruas e em alguns lares. Falar em violência escolar era exceção, porém muitos fatores têm interferido nessa mudança comportamental dos alunos.” (Redação de aluno)

           Na passagem acima ocorre lacuna entre as ideias. O estudante se refere a uma mudança que antes não foi mencionada, ou seja, a uma situação que se tornou comum: a violência na escola. Contrapor a regra à exceção é importante para dar unidade ao texto. Além disso ocorre impropriedade semântica, representada pelo uso do verbo "interferir".  


      Eis a frase corrigida: “A violência ocorria quase que exclusivamente nas ruas e em alguns lares. Falar em violência escolar era exceção, mas atualmente é a regra. Muitos fatores concorreram para essa mudança comportamental dos alunos.”

domingo, 10 de maio de 2015

Sem ordem não há clareza

     “Com o advento da internet, as informações passaram a circular com mais velocidade e a alcançar mais pessoas, inclusive os conteúdos que maculam a imagem de alguém.” (Redação de aluno)

A boa ordenação é fundamental para dar clareza à frase. A passagem acima é uma prova disso: por não ordenar adequadamente os termos, o aluno dá a entender que graças à internet as informações passaram a alcançar tanto as pessoas como os conteúdos que mancham a imagem de alguém. Tais conteúdos, no entanto, estão sintaticamente associados às informações.
 
        Eis a frase corrigida: “Com o advento da internet, as informações – inclusive os conteúdos que maculam a imagem de alguém -- passaram a circular com mais velocidade e a alcançar mais pessoas.” 

domingo, 3 de maio de 2015

Confusão entre os verbos "agir" e "haver"

“É importante que os pais e a escola hajam para combater o bullying, identificando possíveis agressores e vítimas.” (Redação de aluno)

Os verbos “agir” e "haver" são homófonos (ou seja, têm o mesmo som) no presente do subjuntivo: “Talvez haja poucas pessoas na rua”; “Não fique parado. Aja enquanto é tempo”, e assim em todas as pessoas. Isso leva a enganos como o que o aluno cometeu. Ele queria dizer que os pais e a escola devem “agir”, e não “haver” (ter) alguma coisa.


Eis a frase corrigida: “É importante que os pais e a escola ajam para combater o bullying, identificando possíveis agressores e vítimas.”

domingo, 26 de abril de 2015

Não abuse de "não só... como também"

Não só este fator como também vários outros prejudicam não só o futuro de vários jovens, como também comprometem o desenvolvimento do Brasil economicamente, politicamente e socialmente.” (Redação de aluno)

Na passagem acima ocorre o abuso do par correlativo “não só... como também”. O aluno utiliza-o duas vezes, o que sobrecarrega a frase e predispõe a um problema comum no uso desse par: a quebra do paralelismo sintático.
Essa quebra ocorre na segunda ocorrência, em que erroneamente se correlacionam um substantivo (futuro) e uma oração (afetam o futuro do Brasil). Para haver paralelismo, os consequentes devem ter a mesma estrutura.

        “Este fator e vários outros não só prejudicam o futuro dos jovens, como também comprometem o desenvolvimento do Brasil do ponto de vista econômico, político e social.”
 

domingo, 19 de abril de 2015

Evite confundir conceitos filosóficos

 “A teoria existencialista alega que o homem é produto do meio em que está inserido.” (Redação de aluno)

         A citação de termos científicos ou filosóficas na redação tem os seus riscos. O maior deles é se confundir os conceitos, como fez o estudante na passagem acima.
        
          O existencialismo se opõe ao princípio determinista de que o homem é produto do meio. Vê o ser humano como fruto das suas escolhas, que decorrem de uma consciência livre. O homem está condenado à liberdade, conforme escreveu Jean-Paul Sartre, um de seus principais representantes.
       
        Eis a frase corrigida: “A teoria determinista afirma que o homem é produto do meio em que está inserido.”

Evite a ambiguidade

            “Alguns se preocupam bastante em postar frases ou até mesmo textos que possam atrair a atenção e então ganhar seguidores.” (Redação de aluno)

           Já dizia Montaigne que a clareza é a maior virtude de um texto. Frases ambíguas comprometem o que se quer dizer e desnorteiam o leitor. É o que ocorre na passagem acima; o estudante dá a entender que os textos, e não quem os escreve, poderão ganhar seguidores.
  
          Resolve-se o problema acrescentando o que falta para dar lógica ao enunciado:  
          “Alguns se preocupam bastante em postar frases ou até mesmo textos que possam atrair a atenção e os façam ganhar seguidores.”

domingo, 12 de abril de 2015

Má ordenação das palavras pode gerar ambiguidade

“Diante disso, é necessária a extinção de práticas violentas na recepção de novos alunos que trazem risco à saúde física e mental.” (Redação de aluno)

Na passagem acima, de uma redação sobre o trote, ocorre ambiguidade devido à má ordenação dos termos. O pronome relativo “que” parece retomar “alunos”, quando na verdade se refere a “práticas violentas”. São estas que trazem risco à saúde.  
 Pode-se resolver o problema de duas formas:

1) deslocando a oração adjetiva para junto do termo ao qual ela se refere: “Diante disso, é necessária a extinção de práticas violentas, que trazem risco à saúde física e mental, na recepção de novos alunos.”


2)  dividindo o período em dois e indicando com clareza o sujeito da segunda oração:  “Diante disso, é necessária a extinção de práticas violentas na recepção de novos alunos. Elas trazem risco à saúde física e mental.”

domingo, 15 de março de 2015

Evite inversões que comprometem a lógica

        “Essa situação revela o atraso que o racismo representa e a rapidez necessária para combatê-lo.” (Redação de aluno)

Há um pequeno problema lógico na passagem acima. O motivo é a inversão dos termos que compõem o segundo objeto direto do verbo “revelar”. O que a situação antes descrita pelo aluno revela sobre o racismo, além do atraso, não é “a rapidez necessária pare combatê-lo”; é a necessidade de combater prontamente esse tipo de discriminação.

        Eis a frase corrigida: “Essa situação revela o atraso que o racismo representa e a necessidade de combatê-lo rapidamente.”

domingo, 4 de janeiro de 2015

Use as palavras com rigor

       Visualmente o número de pessoas aderentes da legalização da maconha é imenso.” (Redação de aluno)

      Sem rigor no uso das palavras, não se produz um bom texto. A passagem acima confirma isso; tanto o advérbio “visualmente” quanto o adjetivo “aderentes” não estão bem empregados.
        Deve ter passado pela cabeça do aluno a ideia de que é visível, notório, o número de pessoas que pregam a legalização da maconha, mas não foi isso que ele transmitiu. Teria sido mais claro, se escrevesse:


     Visivelmente o número de pessoas adeptas da legalização da maconha é imenso.”