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domingo, 20 de outubro de 2013

Sobre o uso da vírgula

          “Não é suficiente levar mais médicos, construir hospitais também é preciso.” (Redação de aluno)


            A pontuação desse período é inadequada. O uso da vírgula leva o leitor a pensar, num primeiro momento, que também não é suficiente construir hospitais. Só depois ele se dá conta de que o aluno estabelece uma contraposição baseada no seguinte raciocínio: levam-se médicos mas não se constroem hospitais, o que não é suficiente. Até que perceba isso, o leitor já perdeu o fio da leitura.  
 

       A vírgula indica uma pausa de pequena extensão e separa termos de idêntica função sintática (por exemplo: duas orações reduzidas de infinitivo, como o leitor foi levado a pensar lendo o período do aluno). Para contrapor ideias presentes em duas unidades autônomas, que podem valer cada qual por um período, deve-se usar ponto ou ponto e vírgula.

         Eis a frase corrigida: “Não é suficiente levar mais médicos; construir hospitais também é preciso.”

domingo, 13 de outubro de 2013

Evite repetir os conectivos

           Para que este pensamento machista diminua é necessária a conscientização dos cidadãos, com a promoção de campanhas e a valorização da mulher no meio escolar, para que todos percebam que elas não mais o sexo frágil.” (Redação de aluno)

         A passagem acima apresenta falha estrutural. O motivo é a repetição da circunstância de finalidade (introduzida pela locução “para que”) tanto no início quanto no fim do período. Qual é, afinal de contas, o objetivo de se conscientizar os cidadãos? Mudar o pensamento machista ou fazer as pessoas perceberem que a mulher não é mais o sexo frágil?

        Uma coisa praticamente significa a outra, de modo que é possível resumi-las numa única ideia de fim. É o que se faz abaixo (aproveitando-se também para enxugar o texto):

        “Para mudar esse pensamento machista, é necessário conscientizar as pessoas de que a mulher não é mais o sexo frágil. Isso pode ser feito por meio de campanhas que a  valorizem no meio escolar.”

domingo, 6 de outubro de 2013

Inadequação vocabular por influência de metonímia

          “É preciso que a comunidade brasileira participe e fiscalize essas ações governamentais para que juntos possamos tear fio por fio a tão sonhada igualdade de gêneros.” (Redação de aluno)
        Na passagem acima há um problema gramatical e outro semântico. O gramatical é a atribuição de um mesmo complemento a verbos de regências diferentes (“participar” é transitivo indireto; “fiscalizar”, transitivo direto). O ideal é suprimir um desses verbos.
        O problema semântico é um curioso exemplo de imprecisão vocabular devido a uma relação metonímica. Explicando: não existe o verbo “tear”. O tear é o artefato com que se tece. O desvio metonímico consiste, pois, em se usar o instrumento pela ação.
 
         Eis a frase corrigida: “É preciso que a comunidade brasileira fiscalize essas ações governamentais para que juntos possamos tecer fio por fio a tão sonhada igualdade de gêneros.”