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domingo, 30 de junho de 2013

Tautologia com vocábulos gramaticais


        “A traição ocorre exclusivamente em virtude da nossa vontade, e não dos aspectos da natureza humana.” (Redação de aluno)
        A tautologia é o excesso de palavras para indicar uma mesma ideia. Pode ocorrer tanto no léxico, quanto nos vocábulos gramaticais. Exemplos do primeiro tipo são expressões como “consenso geral”, “fatos reais”, “iminente possibilidade”, em que os adjetivos reiteram desnecessariamente o sentido do substantivo. O desconhecimento da etimologia por parte de quem os usa faz com que acrescentem o óbvio.
 
       Exemplo de tautologia gramatical ocorre na passagem acima; o aluno usa sem necessidade o vocábulo “exclusivamente”, que tem o mesmo sentido do advérbio “só”.
        Eis a frase corrigida: “A traição só ocorre em virtude da nossa vontade, e não dos aspectos da natureza humana.”

domingo, 23 de junho de 2013

Abuso da locução "em cima de"

       “É preciso refletir em cima das razões que levam a nossa educação a ser tão ruim.” (Redação de aluno)           

         A preposição “sobre” indica posição superior. Equivale a “em cima de” em frases do tipo “Deixou o livro sobre a mesa (em cima da mesa)”.

       Ocorre que essa preposição também significa “a respeito de”. Nesse caso, introduz um adjunto adverbial de assunto (“Falou sobre a reforma política”) ou o objeto indireto de verbos como “pensar”, “refletir” etc. Em situações como essas não tem nenhum sentido substituí-la por “em cima de”, como fez o aluno.

        Por sinal, há hoje uma tendência a banalizar “em cima de”, que chega a ser indevidamente usada no lugar de “em”: “A turma deu uma vaia em cima do diretor (no diretor)”.  

     Eis a frase corrigida: “É preciso refletir sobre as razões que levam a nossa educação a ser tão ruim.”

domingo, 16 de junho de 2013

Uma armadilha com o verbo "evitar"

         “Deve-se evitar gastar muito com pessoal nem permitir que gente despreparada entre no serviço público.” (Redação de aluno)

        Nessa passagem, o uso da conjunção “nem” constitui uma falha na coesão sequencial. Esse conectivo, que significa “e não”, deveria estar coordenado a uma  afirmação negativa – o que não ocorre.

       O motivo do engano do aluno é semântico; liga-se ao uso do verbo “evitar”, que tem em si uma ideia negativa. Mas o que rege as articulações coesivas não é a ideia, e sim a forma. 
      Na correção, é recomendável desfazer a junção dos infinitivos (evitar gastar), que soa mal. Por exemplo: “Deve-se evitar gasto excessivo com pessoal e permissão para que gente despreparada entre no serviço público.”

domingo, 2 de junho de 2013

Incoerência e falha de pontuação

           “A ideia altruísta, de preservar o presente em detrimento daqueles que ainda virão, é constantemente relacionada à preservação do meio ambiente.” (Redação de aluno)
 
           Na passagem acima, há um problema de incoerência e outro de pontuação. A incoerência está no uso da locução “em detrimento”, que significa “em prejuízo”. Opõe-se a “em prol”, que quer dizer “em proveito”.  O aluno se refere a uma ideia que visa a beneficiar os outros. Sendo assim, a preservação do presente não pode se dar em prejuízo desses outros (aqueles que virão). Preserva-se o presente, o agora, em benefício das gerações futuras.
 
          O problema de pontuação está no uso das vírgulas. Com elas, o aluno apresenta a sua ideia como uma explicação, e não uma especificação. Ora, nem toda “ideia altruísta” consiste em preservar o presente.
  
         Eis a frase corrigida: “A ideia altruísta de preservar o presente em prol daqueles que ainda virão é constantemente relacionada à preservação do meio ambiente.”