“Deveria-se
acreditar na importância da opinião própria e não se deixar influenciar. A vida
das pessoas não poderiam ser interferidas pelo desejo da aprovação dos outros.”
(Redação de aluno)
Na passagem
acima há três problemas gramaticais. O primeiro é o emprego da ênclise em verbo no futuro do pretérito
(deveria-se). Nesse tempo, usa-se o pronome no meio da forma verbal
(mesóclise). Alguns, tendo em vista o abandono da mesóclise hoje em dia,
preferem mesmo usar a próclise (se deveria) -- mas isso não é aconselhável num texto formal.
O segundo problema
é a flexão no plural do verbo
“poder”; esse verbo deveria estar no singular, concordando com o núcleo do
sujeito “vida”. Escrevi “deveria” porque a construção apresentada pelo aluno é
gramaticalmente impossível (eis o terceiro problema). O verbo “interferir”, por
pedir complemento regido de preposição (no caso, “em”), não permite a formação
da voz passiva. Sendo assim, o
sujeito é “o desejo da aprovação dos outros”, e “a vida das pessoas” aparece
como objeto indireto.
Eis a frase corrigida: “Dever-se-ia acreditar na
importância da opinião própria e não se deixar influenciar. O desejo da
aprovação dos outros não poderia interferir na vida das pessoas.”
Um comentário:
A mesóclise é colocação exclusiva da linguagem jurídica, bíblica e científica, não ocorrendo na fala espontânea de nenhum falante do português do Brasil, a menos que seja intencional, como em comédias. Geralmente é substituída pela próclise ou por uma locução verbal formada pelo verbo auxiliar ir. Deve ser evitada em textos argumentativos, por conferir um tom cerimonioso ao discurso. Em Portugal, as mesóclises são muito frequentes, mesmo no contexto literário.
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