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domingo, 26 de junho de 2016

Sobre o uso de "seguridade"

“Alegam que a redução da maioridade de 18 para 16 anos irá diminuir a violência, dando maior seguridade para a sociedade.” (Redação de aluno)

O uso de “seguridade” não se recomenda na frase do estudante por mais de uma razão. A primeira é de natureza semântica. Embora “seguridade” seja sinônimo de “segurança”, o uso a popularizou com um sentido bem específico. Significa, conforme está no Houaiss, o “conjunto de ações dos poderes públicos e da sociedade que, integradas, asseguram a saúde, a previdência e a assistência social”.

A segunda razão diz respeito à fonética.  A reiterada terminação em “dade” é cacofônica, não soa bem, e mais ainda por fazer ecoar outro grupo idêntico de fonemas que aparece um pouco atrás (em “maioridade”).

Eis a frase corrigida: “Alegam que a redução da maioridade de 18 para 16 anos irá diminuir a violência, dando maior segurança à sociedade.”

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Redação comentada

                             Mulher: alvo de pensamentos ultrapassados(1)

         A violência contra a mulher, apesar de bastante discutida, ainda é muito frequente na sociedade. O pensamento ultrapassado(2), que não é somente praticado(3) por homens, impede um maior avanço na luta pelo fim dessas agressões. Porém(4), se comparada ao passado, a situação vivida pelas mulheres atuais é muito melhor, mas(4) não é a necessária(3).
        O pensamento ultrapassado de boa parte da população é o maior causador das agressões contra as mulheres. Homens que se consideram superiores e mulheres submissas são os responsáveis pelo elevado número de casos(5) de violência contra a mulher. A existência da Lei Maria da Penha diminuiu o número de casos(5), mas não extinguiu ou se aproximou disso, devido a essas mulheres que se consideram submissas; muitas delas por aceitarem a situação(6) e outras por terem medo do agressor.
   Apesar de ainda existirem agressões verbais, as conquistas femininas diminuíram consideravelmente a frequência desses atos. Mulheres que são julgadas por suas atitudes, como usar roupas curtas ou praticar algum esporte considerado masculino, sofrem agressão verbal. Graças as conquistas do movimento feminista, essas e outras atitudes estão sendo extintas da sociedade, e as mulheres estão chegando cada vez mais próximas de seu objetivo, a igualdade de gênero(7).
       Campanhas publicitárias a respeito da denúncia de agressão à mulher devem ser criadas, para diminuir ainda mais o número de casos não registrados. Expor nelas a necessidade da denúncia e garantir a segurança da mulher é de extrema importância, pois esses(8) são os principais fatores que levam as mulheres a não denunciarem o agressor. Além disso, também é importante mostrar que é necessário que pessoas que presenciem o crime devem fazer a denúncia(9).


                                                COMENTÁRIOS 
           
(1) O título dado pelo aluno, além de mal pontuado, apresenta uma estruturação inadequada. Parece um fragmento de oração. É possível simplificá-lo, preservando a ideia original; por exemplo: “Visão ultrapassada da mulher”.

(2) A expressão “pensamento ultrapassado” é vaga; faltou dizer que pensamento é esse. Levando em conta o contexto, um complemento possível seria: “O pensamento ultrapassado de que é normal bater em mulher” ou “de que a mulher é inferior e pode apanhar”.

(3) Os vocábulos “praticado” e “necessária” devem ser substituídos em nome do rigor semântico. Alternativas possíveis: “partilhado/defendido” e “adequada/suficiente”.

(4) A presença dos conectivos “mas” e “porém” torna ambíguo o ponto de vista do aluno. Não se sabe se ele quer dizer que a situação vivida pelas mulheres atuais é melhor (em relação às do passado) ou se ainda não é a “necessária”. No primeiro caso, a ênfase recai no “porém”; no segundo, recai no “mas”. Como a argumentação e as propostas de intervenção apontam para esta segunda possibilidade, deve-se retirar o “porém”.    

5) Os dois períodos iniciais do segundo parágrafo praticamente repetem informações. É preferível retirar o primeiro período, já que a palavra “casos” (retomada no terceiro período) estabelece a coesão.  

6) Aceitar a situação não é causa de ser submissa. O melhor neste final de parágrafo é destacar a relação de causa e consequência que existe entre o temor ao agressor e a submissão. Por exemplo: “muitas delas, por medo do agressor, aceitam a situação”.

7) No terceiro parágrafo ocorre falha de progressão; repetem-se as referências às agressões verbais e às conquistas do movimento feminista. Reordená-lo é a melhor forma de resolver o problema. Por exemplo:
        “Mulheres que são julgadas por suas atitudes, como usar roupas curtas ou praticar algum esporte considerado masculino, sofrem agressões verbais. Apesar de tais agressões ainda existirem, as conquistas do movimento feminista diminuíram consideravelmente a sua frequência.  Graças a essas conquistas, essas e outras atitudes estão sendo extintas da sociedade, de modo que as mulheres estão chegando cada vez mais próximas de seu objetivo -- igualdade de gênero.”

(8) Esse pronome retoma as ideias de “denúncia” e “garantia da mulher”; não pode, portanto, se referir aos fatores que levam as mulheres a não denunciar quem as agride. Para haver coerência, “esses” deve ser substituído por termos que designem situações que intimidem a mulher. Por exemplo: “...pois a impunidade dos agressores e o temor de serem alvo de novas agressões são os principais fatores que levam as mulheres a não denunciarem o agressor”.  

(9) Neste último período, há redundância semântica com o uso de “ser necessário” e “dever”; ambos indicam necessidade. Pode-se corrigir o problema retirando um dos dois: “Além disso, também é importante mostrar que as pessoas que presenciem o crime devem fazer a denúncia” ou “Além disso, também é importante mostrar que é necessário que pessoas que presenciem o crime façam a denúncia”. 

terça-feira, 14 de junho de 2016

Uma boa ordem assegura a progressão das ideias

“Apesar de ainda existirem agressões verbais, as conquistas femininas diminuiram consideravelmente a frequência desses atos. Mulheres que são julgadas por suas atitudes, como usar roupas curtas ou praticar algum esporte considerado masculino, sofrem agressão verbal. Graças as conquistas do movimento feminista, o machismo tende a ser extinto da sociedade, e as mulheres estão chegando cada vez mais proximas de seu objetivo, a igualdade de gênero.” (Redação de aluno)

O parágrafo acima apresenta falhas na progressão devido à repetição de termos. O aluno faz referência duas vezes às agressões verbais contra as mulheres às conquistas do feminismo. Informações redundantes, como se sabe, comprometem a estruturação do texto e irritam o leitor.

Muitas vezes o problema ocorre devido a um mau ordenamento das ideias. É justamente o que ocorre no parágrafo acima, que foi mal pensado e, por isso, está mal expresso. Uma forma de resolver o problema é colocá-lo na ordem adequada, retomando os termos repetidos por meio dos elementos coesivos adequados (em negrito na versão refeita).  Ao refazer, corrigem-se também os problemas gramaticais (acentuação, crase e flexão indevida do advérbio “próximo”). Por exemplo:

“Mulheres que são julgadas por suas atitudes, como usar roupas curtas ou praticar algum esporte considerado masculino, sofrem agressões verbais. Apesar de tais agressões ainda existirem, as conquistas do movimento feminista diminuíram consideravelmente a sua frequência. Graças a essas conquistas, o machismo tende a ser extinto da sociedade, e as mulheres estão chegando cada vez mais próximo de seu objetivo -- igualdade de gênero.”

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Problema semântico e de crase

      “A juventude não é passiva e sim desacreditada no que se refere a atual conjuntura político-social do Brasil.” (Redação de aluno)
 
A passagem acima apresenta dois problemas -- um semântico, outro morfológico.
O problema semântico é o uso de “desacreditada”, que tem sentido passivo. “Desacreditado” é alguém em quem não se acredita. Pelo contexto da frase, no entanto, a juventude aparece como agente; ela é que manifesta falta de crença.
O segundo problema é que faltou marcar com o acento grave a crase formada pela locução prepositiva “no que se refere a” e o artigo definido feminino que antecede “conjuntura”.

Eis a frase corrigida: “A juventude não é passiva e sim descrente no que se refere à atual conjuntura político-social do Brasil.”