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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Falha no processo comparativo

        “Morrem a cada ano mais pessoas vítimas do hábito de fumar que a soma das mortes devido a Aids, violência e suicídios.” (Da redação de um aluno)

         Nessa passagem há quebra da coesão. O motivo é o cruzamento indevido dos termos que participam do processo comparativo.
         O aluno inicia o período se propondo a comparar o “número de vítimas” do fumo com o das pessoas que morrem de Aids, violência e suicídios. Antes de fechar a comparação, contudo, introduz a expressão “a soma das mortes” como um novo termo a ser comparado. Com isso, trunca o sentido.  Para dar unidade ao texto, deveria ter escrito:
       “Morrem a cada ano mais pessoas vítimas do hábito de fumar que de Aids, violência e suicídios.”
      Caso o termo comparado fosse “as mortes”, a redação poderia ficar assim:
       “As mortes decorrentes do hábito de fumar são em maior número que as provocadas por Aids, violência e suicídios.”

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Defasagem

      “A prática do bullying é comumente vista entre crianças e adolescentes, pois é nessa fase que sua personalidade está ainda se estabilizando.” (Da redação de um aluno)
         Comento aqui muitas falhas de coesão, mas não há como fugir do assunto. Os deslizes coesivos são de fato os mais comuns. 
       Um exemplo deles ocorre na frase acima, em que a expressão “nessa fase” não pode retomar formalmente nenhum termo da oração anterior. A intenção do aluno era fazê-la substituir “crianças e adolescentes”, mas esses termos designam os indivíduos e não as fases por que eles passam. As fases são “infância” e “adolescência”. Além do mais, a presença de “nessa fase” torna redundante o advérbio “ainda”.
        Eis uma possível correção para a frase:
        “A prática do bullying é comumente vista entre crianças e adolescentes, cuja personalidade está ainda se estabilizando.”

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Confusão entre "antecedente" e "precedente"

“Ao desculpar-se com Galileu Galilei, Nicolau Copérnico e Giordano Bruno, o papa João Paulo II criou um antecedente histórico.” (Da redação de um aluno)

        “Antecedente” e “precedente” têm em comum a ideia de “vir antes”, e neste sentido se pode dizer que um acontecimento antecedeu ou precedeu outro. O termo “precedente”, contudo, designa também um “ato, fato ou decisão que serve de referência ou pretexto para que se aja da mesma forma” (Houaiss). 
     Tais características definem a atitude de João Paulo II ao pedir desculpas a cientistas e filósofos que outrora foram vítimas da intolerância da Igreja. Eis a frase corrigida:
      “Ao desculpar-se com Galileu Galilei, Nicolau Copérnico e Giordano Bruno, o papa João Paulo II criou um precedente histórico.” 

domingo, 18 de setembro de 2011

Confusão entre "em detrimento" e "em prol"

“O senhor disse que se deve relegar o meio ambiente a segundo plano, em detrimento do homem.” (Da redação de um aluno)

        Nessa passagem o estudante contesta José Saramago, para quem as tragédias ambientais são graves porém as humanas são piores. Em discurso indireto, ele parafraseia a afirmação do escritor e se dispõe a contestá-la.
       Comete no entanto uma incoerência ao usar “em detrimento de”, que significa em “prejuízo de”. Com isso distorce o ponto de vista do português, que procura em sua declaração combater os excessos dos ambientalistas. Eis a frase corrigida:
         “O senhor disse que se deve relegar o meio ambiente a segundo plano, em prol  do homem.”

domingo, 11 de setembro de 2011

"luz no fim do túmulo"?

     “Para algumas pessoas, a morte é a luz no fim do túmulo.” (Redação de um aluno)
      Se o aluno não pretendeu fazer um jogo de palavras (e não pretendeu mesmo), confundiu os parônimos. A paranomásia, que até pode soar risível, não abranda o efeito da imprecisão semântica. Eis a frase corrigida: 
        “Para algumas pessoas, a morte é a luz no fim do túnel.”

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Uso indevido do conectivo

       “O Vaticano declarou que a teoria da evolução é compatível com a Bíbliamas não pensa em pedir desculpas à indiferença para com Darwin há 150 anos.” (Redação de aluno) 

       O uso indevido dos conectivos pode mudar o sentido da frase ou deixá-la incompreensívelDa forma como o aluno escreveu, o Vaticano pediria desculpas “à indiferençaque manifestou pela teoria de Darwin logo que ela surgiu.  As desculpas, na verdade, se dirigiriam ao próprio Darwin em razão de a Igreja ter sido indiferente com ele.
        A troca da preposição “a” pela preposiçãopor (per)” dá clareza ao enunciado. Confira:
          “O Vaticano declarou que a teoria da evolução é compatível com a Bíblia, mas não pensa em pedir desculpas pela indiferença com Darwin há 150 anos.